"Bergoglio troca o Isis pelas Brigadas Vermelhas.
A sua análise podia ser boa para
a luta de classes dos anos 1960, mas
hoje
é um absurdo negar a matriz religiosa
do terrorismo e ver apenas a
econômica e política,
como faziam antigamente os teólogos da
libertação."
O sociólogo Domenico De Masi
cita a encíclica Populorum progressio de Paulo VI,
mas especifica: "Ali, estávamos em 1967,
e havia a revolta social, não o fundamentalismo islâmico
que mata em nome de Alá".
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada no jornal La Stampa, 06-11-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
O que não o convence no discurso do Papa Francisco?
Em nível científico, no terrorismo atual, foram isoladas diversas causas. Pessoalmente, logo rebati aqueles estudiosos que se recusavam a reconhecer a evidência. A raiz religiosa é tão forte que torna impossível não ver como as coisas realmente são. O papa comete o mesmo erro de certos analistas, isto é, nega que o Isis combate em nome de uma visão de fé. A religião tem a ver, sim, ou, melhor, é um dos principais motores da desestabilização.
E as desigualdades, ao contrário, não criam as condições favoráveis à difusão do terrorismo?
A parte mais convincente do raciocínio do papa é aquela no qual ele defende que a exploração e a especulação são a causa dos desequilíbrios políticos e sociais dos quais derivam a guerra e o terrorismo. Mas, depois, Francisco dá um passo lógico que não encontra confirmações na maioria dos estudos realizados em nível internacional.
Qual é o ponto fraco, a seu ver, nessa reconstrução?
A avaliação de Bergoglio está evidentemente equivocada quando ele se arrisca a defender que não se pode falar de terrorismo religioso. A realidade diz o contrário. Achatar a reflexão no plano econômico-político e das relações de poder é uma tentativa infeliz de reduzir a complexidade do fenômeno.
Portanto, o papa faz um raciocínio político demais?
Determinístico, eu diria. Bergoglio demonstrou outras vezes que tem a visão mais longa do que os governantes ou da ONU, mas aqui ele sobrepõe planos diferentes e indica mecanismos de causa e efeito que não estão fundamentados.
Pobreza e terrorismo não estão correlacionados, na sua opinião?
Não há dúvida de que a minha filha tem mais possibilidades de se realizar na vida do que um rapaz que atravessa meia África para chegar da Mauritânia à Itália e que, talvez, também tenha que se defrontar com um muro de discriminações e de injustiças sociais. Mas o estudo dos focos mundiais demonstra que não é automática a passagem da condição desfavorável ao terrorismo.
O que falta na análise?
Em uma situação subjetiva de grave desvantagem econômica, abandonamo-nos em geral ao desespero, à resignação, à depressão, até ao suicídio. Para passar para o terrorismo, é preciso a coragem de matar e de ser morto, e isso não é adquirido automaticamente com a pobreza. É o elemento individual que falta na análise economicista da teologia da libertação.
Em nível científico, no terrorismo atual, foram isoladas diversas causas. Pessoalmente, logo rebati aqueles estudiosos que se recusavam a reconhecer a evidência. A raiz religiosa é tão forte que torna impossível não ver como as coisas realmente são. O papa comete o mesmo erro de certos analistas, isto é, nega que o Isis combate em nome de uma visão de fé. A religião tem a ver, sim, ou, melhor, é um dos principais motores da desestabilização.
E as desigualdades, ao contrário, não criam as condições favoráveis à difusão do terrorismo?
A parte mais convincente do raciocínio do papa é aquela no qual ele defende que a exploração e a especulação são a causa dos desequilíbrios políticos e sociais dos quais derivam a guerra e o terrorismo. Mas, depois, Francisco dá um passo lógico que não encontra confirmações na maioria dos estudos realizados em nível internacional.
Qual é o ponto fraco, a seu ver, nessa reconstrução?
A avaliação de Bergoglio está evidentemente equivocada quando ele se arrisca a defender que não se pode falar de terrorismo religioso. A realidade diz o contrário. Achatar a reflexão no plano econômico-político e das relações de poder é uma tentativa infeliz de reduzir a complexidade do fenômeno.
Portanto, o papa faz um raciocínio político demais?
Determinístico, eu diria. Bergoglio demonstrou outras vezes que tem a visão mais longa do que os governantes ou da ONU, mas aqui ele sobrepõe planos diferentes e indica mecanismos de causa e efeito que não estão fundamentados.
Pobreza e terrorismo não estão correlacionados, na sua opinião?
Não há dúvida de que a minha filha tem mais possibilidades de se realizar na vida do que um rapaz que atravessa meia África para chegar da Mauritânia à Itália e que, talvez, também tenha que se defrontar com um muro de discriminações e de injustiças sociais. Mas o estudo dos focos mundiais demonstra que não é automática a passagem da condição desfavorável ao terrorismo.
O que falta na análise?
Em uma situação subjetiva de grave desvantagem econômica, abandonamo-nos em geral ao desespero, à resignação, à depressão, até ao suicídio. Para passar para o terrorismo, é preciso a coragem de matar e de ser morto, e isso não é adquirido automaticamente com a pobreza. É o elemento individual que falta na análise economicista da teologia da libertação.
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FONTE: http://www.ihu.unisinos.br/562078-a-analise-de-bergoglio-e-anti-historica-pois-nega-as-raizes-religiosas-de-terror-entrevista-com-domenico-de-masi
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