O papa encontrou-se esta segunda-feira, no Vaticano, com o físico
e cosmólogo inglês Stephen Hawking, no contexto da sessão plenária da
Academia Pontifícia das Ciências, que decorre entre sexta e
terça-feira, 29 de novembro.
O investigador ateu de 74 anos, membro da Academia desde 1986 e
um dos cerca de 60 participantes no encontro, falou sobre "A origem do
universo" no primeiro dia da iniciativa.
Na assembleia plenária da academia, considerada a mais antiga do
mundo no domínio da ciência e aberta a investigadores
independentemente da sua pertença religiosa, participam várias
personalidades distinguidas com o prémio Nobel.
No livro "Uma breve história do tempo" (1988), Hawking referiu
que o papa S. João Paulo II tinha voltado a despertar nele o interesse
pela origem e destino do universo.
Em junho de 2015, entrevistado pelo jornal espanhol "El mundo",
Hawking afirmou que antes de se «compreender a ciência, é natural
acreditar que Deus criou o universo».
«Mas agora a ciência oferece uma explicação mais convincente.
Quando digo que "conheceríamos a mente de Deus" quero dizer que
conheceríamos tudo o que Deus conheceria, se houvesse um Deus, que não
existe. Sou um ateísta», declarou.
Em conferência proferida este mês em Oxford, o cientista
mostrou-se convicto de que a humanidade precisa de encontrar outro lugar
para habitar porque a Terra deixará de ter condições.
«Não acho que sobreviveremos mais do que os próximos mil anos
sem escapar desse planeta tão frágil. Eu quero que as pessoas tenham
interesse em estudar o espaço, assim como eu tive desde cedo», disse.
No discurso aos participantes na assembleia plenária, Francisco
acentuou que nunca como agora é tão «evidente a missão da ciência ao
serviço de um novo equilíbrio ecológico global».
«E ao mesmo tempo está-se a manifestar uma renovada aliança entre a
comunidade científica e a comunidade cristã, que veem convergir as suas
diferentes aproximações à realidade para esta finalidade partilhada de
proteger a casa comum, ameaçada de colapso ecológico e pelo consequente
aumento de pobre e de exclusão social», apontou.
Excertos da intervenção do papa:
«Na modernidade, crescemos a pensar que éramos os proprietários e os
donos da natureza, autorizados a saqueá-la sem qualquer consideração das
suas potencialidades secretas e leis evolutivas, como se se tratasse de
um material inerte à nossa disposição, produzindo, entre outras
consequências, uma gravíssima perda de biodiversidade.
Na realidade, não somos os protetores de um museu e das suas
obras-primas a que devemos tirar o pó todas as manhãs, mas os
colaboradores da conservação e do desenvolvimento do ser e da
biodiversidade do planeta, e da vida humana nele presente.
A conversão ecológica capaz de suportar o desenvolvimento sustentável
compreende de maneira inseparável quer a assunção plena da nossa
responsabilidade humana em relação ao criado e dos seus recursos, quer a
procura da justiça social e a superação de um sistema iníquo que produz
miséria, desigualdade e exclusão.
Em resumo, direi que cabe antes de tudo aos cientistas, que trabalham
livres de interesses políticos, económicos ou ideológicos, construir um
modelo cultural para enfrentar a crise das alterações climáticas e das
suas consequências sociais, de modo que as enormes potencialidades
produtivas não sejam reservadas apenas a alguns.
Do mesmo modo que a comunidade científica, através de um diálogo
interdisciplinar no seu interior, soube estudar e demonstrar a crise do
nosso planeta, assim é hoje chamada a constituir uma liderança que
indique soluções gerais e particulares sobre temas que são discutidos na
vossa assembleia plenária: a água, as energias renováveis e a segurança
alimentar.
Torna-se indispensável criar com a vossa colaboração um sistema
normativo que inclua limites invioláveis e assegure a proteção dos
ecossistemas, antes que novas formas de poder derivadas do paradigma
tecno-económico produzam danos irreversíveis não só ao ambiente, mas
também à convivência, à democracia, à justiça e à liberdade.
Neste quadro geral é digna de nota a fraca reação da política
internacional - ainda que haja louváveis excecções - em relação à
vontade concreta de procurar o bem comum e os bens universais, e a
facilidade com que são desatendidos os fundados conselhos da ciência
sobre a situação do planeta.
A submissão da política à tecnologia e à finança, que procuram antes
de mais o lucro, demonstra-se na "distração" ou atraso na aplicação dos
acordos mundiais sobre o ambiente, bem como pelas contínuas guerras de
predomínio mascaradas de nobres reivindicações, que causam danos cada
vez mais graves ao ambiente e à riqueza moral e cultural dos povos.»
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Rui Jorge Martins
Publicado em 28.11.2016
Publicado em 28.11.2016
Fonte: http://www.snpcultura.org/papa_francisco_encontrou_se_com_stephen_hawking.html
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