Rodrigo Constantino*
Procusto, na mitologia grega, tinha uma cama de ferro, para a
qual convidava todos os viajantes a se deitarem. Se os hóspedes fossem
muito altos, ele amputava o excesso de comprimento para ajustá-los à
cama, e os que tinham pequena estatura eram esticados até atingirem o
comprimento adequado. Uma vítima nunca se ajustava exatamente ao tamanho
da cama porque Procusto, secretamente, tinha duas camas de tamanhos
diferentes. Continuou seu reinado de terror até que foi capturado pelo
herói ateniense Teseu que, em sua última aventura, prendeu Procusto em
sua própria cama e cortou sua cabeça e seus pés.
A metáfora é perfeita para capturar essa mentalidade utópica de quem
quer adaptar a realidade às suas fantasias, e não o contrário. Mentes
obtusas criam suas ilusões abstratas no conforto de suas casas ou
escritórios, e passam a acreditar que o “novo mundo” é mesmo possível,
com total desprezo pelo mundo real. Experimento atrás de experimento, os
socialistas tentaram moldar os indivíduos até criar o “novo homem”. O
resultado foi sempre o mesmo: terror, escravidão e miséria, como na
Venezuela. Mas esses filhos de Procusto não desistem nunca: se ao menos a
cabeça for serrada um pouco mais abaixo, e os pés forem esticados um
tantinho mais…
A humilhante derrota da esquerda nas eleições municipais,
especialmente no caso da “nova esquerda” representada por Freixo,
demonstra como a ideologia dessa turma fica acima dos fatos. O tal povo,
que essa gente diz defender, não quis saber do socialismo, ópio dos
“intelectuais”, artistas e “estudantes” burgueses. Não quer nada com a
pauta “progressista” de aborto, libertinagem e drogas. O povo quer
emprego, saúde, segurança, saneamento e transporte. Mas os “filósofos de
gabinete” se recusam a ter mais humildade e, de fato, escutar a voz das
ruas. Esses pobres são uns ingratos alienados, pensam. Se ao menos
fosse possível forçá-los a serem livres… É uma mentalidade tacanha,
arrogante e autoritária, típica do esquerdismo tupiniquim. O utópico é
capaz de matar o homem de carne e osso para adequá-lo aos seus anseios
infantis. Raymond Aron resumiu com perfeição a diferença dessa postura
para a do liberalismo:
“O liberal é humilde. Reconhece que o mundo e a vida são complicados.
A única coisa de que tem certeza é que a incerteza requer a liberdade,
para que a verdade seja descoberta por um processo de concorrência e
debate que não tem fim. O socialista, por sua vez, acha que a vida e o
mundo são facilmente compreensíveis; sabe de tudo e quer impor a
estreiteza de sua experiência – ou seja, sua ignorância e arrogância –
aos seus concidadãos”.
Os novos Procustos se deram mal também: tiveram suas cabeças cortadas, pelas urnas, pelo povo!
O tal povo não quis saber do socialismo, ópio dos “intelectuais”, artistas e “estudantes”
burgueses. Não quer a pauta “progressista” de aborto, libertinagem e drogas
burgueses. Não quer a pauta “progressista” de aborto, libertinagem e drogas
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* Rodrigo Constantino é economista, escritor e um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”
Fonte: http://rodrigoconstantino.com/artigos/os-filhos-de-procusto-coluna-na-istoe-desta-semana/?utm_medium=feed&utm_source=feedpress.me&utm_campaign=Feed%3A+rconstantino
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