Afonso Borges*
Existe, sim, um segundo livro mais lido depois da Bíblia. É
“A Imitação de Cristo”, escrito em 1441, pelo Padre e escritor alemão
Tomás de Kempis. É fácil explicar a imensa disseminação de seu livro:
ele é um auxiliar à oração e às práticas devocionais pessoais. Todos o
consultam como um oráculo, considerado um dos maiores tratados da moral
cristã.
Leonardo Boff, o quinto autor de língua portuguesa mais
traduzido no mundo, segundo o recém-lançado “Novo Atlas da Língua
Portuguesa” decidiu encarar um desafio: traduzir, direto do latim
medieval, os quatro livros que compõem “A Imitação de Cristo”. É uma
obra de tamanha profundidade e lastro da alma humana que os grandes
pensadores contemporâneos, como Freud, Heidegger e Hegel foram beber
nesta fonte.
Mas como é um texto que busca a própria imitação da vida
de Cristo, é marcado por uma profunda dualidade, própria da visão
medieval do mundo. Como o próprio Leonardo Boff disse, “ele separa
mundo e Deus, põe sob suspeita ou despreza tudo o que tem a ver com o
prazer e o corpo. Concentra tudo no encontro com o Cristo e a promessa
da vida eterna. Isso justifica um pouco a visão dualista de muitos
cristãos”.
Mas Leonardo Boff é, também, um dos grandes pensadores da
alma humana. Tomando como referência a teologia oficial da Igreja
retirada do Vaticano II, na qual se articula mundo e Deus, prazer
legítimo da criação com a vida eterna, decidiu ir além, e atualizar o
texto. Tomando como inspiração o pensamento cristão do mundo de hoje.
Eu não apenas traduzi o texto mas o completei, tomando
como referência a teologia oficial da Igreja que saiu do Vaticano II na
qual se articula mundo e Deus, prazer legítimo da criação com a vida
eterna. Conservando o estilo dei um torneio nas frases de forma a
superar o dualismo e enriquecer esta obra e assim fosse de inspiração
para os cristãos de hoje.
“A Imitação de Cristo” tem quatro partes, chamadas de
livros. Leonardo Boff escreveu um quinto livro "O Seguimento de Jesus",
no qual ele infere elementos da Teologia da Libertação, em uma reflexão
moderna, com os olhos postos principalmente na América Latina. Entram a
Cosmologia, a Holística, a nova visão de mundo vida das ciências da vida
e da Terra.
A tradição cristã de Kempis encontrou na visão moderna e
libertária de Boff um caminho renovador para “A Imitação de Cristo”. Do
século XV para o XXI e muitos ainda, que virão. E já sai direto do prelo
da Editora Vozes para o México, Espanha e, em breve, Itália e
Alemanha.
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* Colunista do Jornal O Globo
Fonte: http://blogs.oglobo.globo.com/afonso-borges/post/leonardo-boff-reinventa-o-segundo-livro-mais-lido-da-historia.html
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