quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Leonardo Boff reinventa o segundo livro mais lido da história

Afonso Borges*

Leonardo Boff

Existe, sim, um segundo livro mais lido depois da Bíblia. É “A Imitação de Cristo”, escrito em 1441, pelo Padre e escritor alemão Tomás de Kempis. É fácil explicar a imensa disseminação de seu livro: ele é um auxiliar à oração e às práticas devocionais pessoais. Todos o consultam como um oráculo, considerado um dos maiores tratados da moral cristã. 

Leonardo Boff, o quinto autor de língua portuguesa mais traduzido no mundo, segundo o recém-lançado “Novo Atlas da Língua Portuguesa” decidiu encarar um desafio: traduzir, direto do latim medieval, os quatro livros que compõem “A Imitação de Cristo”. É uma obra de tamanha profundidade e lastro da alma humana que os grandes pensadores contemporâneos, como Freud, Heidegger e Hegel foram beber nesta fonte. 

Mas como é um texto que busca a própria imitação da vida de Cristo, é marcado por uma profunda dualidade, própria da visão medieval do mundo. Como o próprio Leonardo Boff disse,  “ele separa mundo e  Deus, põe sob suspeita ou despreza tudo o que tem a ver com o prazer e o corpo. Concentra tudo no encontro com o Cristo e a promessa da vida eterna. Isso justifica um pouco a visão dualista de muitos cristãos”. 

Mas Leonardo Boff é, também, um dos grandes pensadores da alma humana. Tomando como referência a teologia oficial da Igreja retirada do Vaticano II, na qual se articula mundo e Deus, prazer legítimo da criação com a vida eterna, decidiu ir além, e atualizar o texto. Tomando como inspiração o pensamento cristão do mundo de hoje. 

Eu não apenas traduzi o texto mas o completei, tomando como referência a teologia oficial da Igreja que saiu do Vaticano II na qual se articula mundo e Deus, prazer legítimo da criação com a vida eterna. Conservando o estilo dei um torneio nas frases de forma a superar o dualismo e  enriquecer esta obra e assim fosse de inspiração para os cristãos de hoje.

“A Imitação de Cristo” tem quatro partes, chamadas de livros. Leonardo Boff escreveu um quinto livro "O Seguimento de Jesus", no qual ele infere elementos da Teologia da Libertação, em uma reflexão moderna, com os olhos postos principalmente na América Latina. Entram a Cosmologia, a Holística, a nova visão de mundo vida das ciências da vida e da Terra. 

A tradição cristã de Kempis encontrou na visão moderna e libertária de Boff um caminho renovador para “A Imitação de Cristo”. Do século XV para o XXI e muitos ainda, que virão. E já sai direto do prelo da Editora Vozes para o México, Espanha e, em breve, Itália e Alemanha. 
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* Colunista do Jornal O Globo
Fonte: http://blogs.oglobo.globo.com/afonso-borges/post/leonardo-boff-reinventa-o-segundo-livro-mais-lido-da-historia.html

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