segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Ideologia não é colete à prova de balas

Montserrat Martins*
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 O resultado da eleição em Porto Alegre, tal como na maior parte do Brasil, tem sido interpretado como uma vitória “da direita”, o que é uma simplificação intelectual tanto quanto dizer que o petismo é “de esquerda”. Seria mais sincero dizer que se trata de duas formas de populismo, que diferem mais no discurso do que nas práticas políticas, até o momento, eis que todos recorrem a governos de coalizão para gerar maioria legislativa.

O eleitor brasileiro não é de direita, nem de esquerda, ele se move de acordo com suas necessidades imediatas – e devemos culpar os eleitores por isso? Enquanto o petismo esteve associado altos níveis de emprego e desenvolvimento econômico, ganhou todas as eleições, independentemente das simpatias da mídia ou de denúncias sobre o mensalão.

A derrocada econômica – que querem creditar a forças externas como evasiva para os próprios erros – foi o fator maior de perda de apoio, mais até que a derrocada moral, haja visto o perfil dos novos eleitos. Não é que a pecha pejorativa não pese, é que ela não “pegava” tanto antes da crise econômica, os algozes não desfrutavam de tanta credibilidade diante de um governo federal que parecia eficiente na economia e nas oportunidades de ascensão social.

Em 2016 mais uma vez os brasileiros votaram em quem acreditam que lhes trará melhores resultados, a curto prazo, para seus problemas de emprego e de segurança pública, ou seja, relacionados às duas principais formas de violência, pois o desemprego é a primeira.

Votaram em quem falou no envolvimento dos municípios com ações de segurança, em enxugamento da máquina pública para evitar déficits, em medidas práticas para atendimento de saúde, votaram em políticos que se apresentaram mais com perfil de gestor do que ideológico.

Os ideólogos de esquerda praticam sua revolta, agora, oscilando desde o extremo de suscitarem o “fantasma do fascismo” até a comemorarem a vitória das abstenções, brancos e nulos como prova da “falta de opções” do eleitor. Nenhuma dessas atitudes leva a qualquer forma de aprendizado.

Valorizar a democracia é antes de tudo respeitar e, mais do que isso, tentar compreender sinceramente a vontade popular, ao invés de criticar ou negar essa mensagem. Um cientista social que fez esse esforço foi André Singer em seu livro “Os sentidos do lulismo” quando reconhecia que o povo brasileiro não era de esquerda, estava apoiando um governo teoricamente de esquerda por seus resultados econômicos. O povo quer resultados, porque ideologia não é colete à prova de balas.
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* Colunista do Portal EcoDebate, é médico psiquiatra, bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais e ex-presidente do IGS – Instituto Gaúcho da Sustentabilidade
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Fonte:  https://www.ecodebate.com.br/2016/11/07/ideologia-nao-e-colete-a-prova-de-balas-artigo-de-montserrat-martins/

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