O resultado da eleição em Porto Alegre, tal como na maior parte do
Brasil, tem sido interpretado como uma vitória “da direita”, o que é uma
simplificação intelectual tanto quanto dizer que o petismo é “de
esquerda”. Seria mais sincero dizer que se trata de duas formas de
populismo, que diferem mais no discurso do que nas práticas políticas,
até o momento, eis que todos recorrem a governos de coalizão para gerar
maioria legislativa.
O eleitor brasileiro não é de direita, nem de esquerda, ele se move
de acordo com suas necessidades imediatas – e devemos culpar os
eleitores por isso? Enquanto o petismo esteve associado altos níveis de
emprego e desenvolvimento econômico, ganhou todas as eleições,
independentemente das simpatias da mídia ou de denúncias sobre o
mensalão.
A derrocada econômica – que querem creditar a forças externas como
evasiva para os próprios erros – foi o fator maior de perda de apoio,
mais até que a derrocada moral, haja visto o perfil dos novos eleitos.
Não é que a pecha pejorativa não pese, é que ela não “pegava” tanto
antes da crise econômica, os algozes não desfrutavam de tanta
credibilidade diante de um governo federal que parecia eficiente na
economia e nas oportunidades de ascensão social.
Em 2016 mais uma vez os brasileiros votaram em quem acreditam que
lhes trará melhores resultados, a curto prazo, para seus problemas de
emprego e de segurança pública, ou seja, relacionados às duas principais
formas de violência, pois o desemprego é a primeira.
Votaram em quem falou no envolvimento dos municípios com ações de
segurança, em enxugamento da máquina pública para evitar déficits, em
medidas práticas para atendimento de saúde, votaram em políticos que se
apresentaram mais com perfil de gestor do que ideológico.
Os ideólogos de esquerda praticam sua revolta, agora, oscilando desde
o extremo de suscitarem o “fantasma do fascismo” até a comemorarem a
vitória das abstenções, brancos e nulos como prova da “falta de opções”
do eleitor. Nenhuma dessas atitudes leva a qualquer forma de
aprendizado.
Valorizar a democracia é antes de tudo respeitar e, mais do que isso,
tentar compreender sinceramente a vontade popular, ao invés de criticar
ou negar essa mensagem. Um cientista social que fez esse esforço foi
André Singer em seu livro “Os sentidos do lulismo” quando reconhecia que
o povo brasileiro não era de esquerda, estava apoiando um governo
teoricamente de esquerda por seus resultados econômicos. O povo quer
resultados, porque ideologia não é colete à prova de balas.
-------------------------------------* Colunista do Portal EcoDebate, é médico psiquiatra, bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais e ex-presidente do IGS – Instituto Gaúcho da Sustentabilidade
Imagem da internet
Fonte: https://www.ecodebate.com.br/2016/11/07/ideologia-nao-e-colete-a-prova-de-balas-artigo-de-montserrat-martins/
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