LYA LUFT*
Outro dia, falei com uma plateia muito simpática, de
uma empresa que partilhava com funcionários um momento de inovações.
Difícil não inovar nestes tempos tumultuados, de competições às vezes
desvairadas, de necessidade de manter a cabeça à tona d’água, quando
tanta coisa colabora para que a gente estagne. Para começar, nada se faz
sem a inovação interior, pessoal, de cada um: querer mudar para
melhorar ou para ao menos sobreviver direito. A cada momento, teríamos
de nos renovar: impossível tarefa, pois não sobreviveríamos a essa
batalha incessante e dura. É duro mexer na nossa zona de conforto (nem
todas as expressões modernas são modernosas).
Às vezes, como tanto escrevi e falei, é preciso parar pra pensar, e vem a inevitável reação: “Parar pra pensar? Nem pensar! Se paro, eu desmorono”. Porém, sem uma eventual consciência de nós, do que somos (ou pensamos ser), fazemos, queremos e podemos (ou devíamos), nada vai adiante: a engrenagem acaba enferrujando, logo não teremos visão além da confusão de peças que funcionam desordenadamente.
Olho minhas duas cachorrinhas em casa: bicho, quando não tem o que fazer, fica quieto observando, ou dorme. Pessoa, quando não tem o que fazer, puxa angústia. Já senti uma secreta invejinha: poder só brincar, só cochilar, só ficar de olho no estranho mundo humano, curtindo a minha redoma de ser bicho. Não dá.
Então às vezes precisamos inovar, porque a vida pede isso, o trabalho exige isso, devemos isso a nós mesmos, pois a vida chama. E tem muita coisa simpática nesses movimentos que, para serem bons e produtivos, pedem consciência, inquietação, coragem, honradez, estímulo de outros se possível: dos amores, dos amigos, da família, da empresa, sei lá.
E como foi Dia dos Mortos, grandes transformadores nossos – porque dessa perda não saímos impunes –, lembrei de tantos que se foram, do quanto sofri com eles e por eles, e por mim mesma – que tão doloridamente os perdi. Até descobrir, com o passar do tempo (que nem sempre é inimigo), que na verdade continuam todos em mim: memórias, lições, exemplos, abraços, olhares, companhias. Que a espantosa dor da perda se adoça dentro do possível, e se torna suportável. E começamos a recordar mais os casos divertidos, os dias alegres, os conselhos que me deram ou dariam (pois seguidamente os interrogo aqui dentro, “e agora, o que faço?”, imaginando sua resposta, que às vezes me ajuda). Como a frase que meu pai repetia quando eu enfrentava algum dilema: “Olha, filha, se você for para esse lado, acho que vai se sair bem; se escolher o outro, corre mais perigo de quebrar a cara. Seja qual for sua escolha, vou estar sempre aqui”.
Muitas vezes, reclamei, “cadê você agora que tanto preciso?”. E ele estava. Todos estão. Apesar das nossas trapalhadas, das lembranças mais pálidas, dos esquecimentos e das impossíveis retratações, se não amamos direito, eles nos sustentam quando bate o vento das inovações arrebentando tudo, revolvendo a terra da nossa alma, derrubando as árvores da alegria e abalando a nossa segurança. Podemos nem saber, nem claramente sentir – mas aqui estão, imortais fragmentos amorosos.
Às vezes, como tanto escrevi e falei, é preciso parar pra pensar, e vem a inevitável reação: “Parar pra pensar? Nem pensar! Se paro, eu desmorono”. Porém, sem uma eventual consciência de nós, do que somos (ou pensamos ser), fazemos, queremos e podemos (ou devíamos), nada vai adiante: a engrenagem acaba enferrujando, logo não teremos visão além da confusão de peças que funcionam desordenadamente.
Olho minhas duas cachorrinhas em casa: bicho, quando não tem o que fazer, fica quieto observando, ou dorme. Pessoa, quando não tem o que fazer, puxa angústia. Já senti uma secreta invejinha: poder só brincar, só cochilar, só ficar de olho no estranho mundo humano, curtindo a minha redoma de ser bicho. Não dá.
Então às vezes precisamos inovar, porque a vida pede isso, o trabalho exige isso, devemos isso a nós mesmos, pois a vida chama. E tem muita coisa simpática nesses movimentos que, para serem bons e produtivos, pedem consciência, inquietação, coragem, honradez, estímulo de outros se possível: dos amores, dos amigos, da família, da empresa, sei lá.
E como foi Dia dos Mortos, grandes transformadores nossos – porque dessa perda não saímos impunes –, lembrei de tantos que se foram, do quanto sofri com eles e por eles, e por mim mesma – que tão doloridamente os perdi. Até descobrir, com o passar do tempo (que nem sempre é inimigo), que na verdade continuam todos em mim: memórias, lições, exemplos, abraços, olhares, companhias. Que a espantosa dor da perda se adoça dentro do possível, e se torna suportável. E começamos a recordar mais os casos divertidos, os dias alegres, os conselhos que me deram ou dariam (pois seguidamente os interrogo aqui dentro, “e agora, o que faço?”, imaginando sua resposta, que às vezes me ajuda). Como a frase que meu pai repetia quando eu enfrentava algum dilema: “Olha, filha, se você for para esse lado, acho que vai se sair bem; se escolher o outro, corre mais perigo de quebrar a cara. Seja qual for sua escolha, vou estar sempre aqui”.
Muitas vezes, reclamei, “cadê você agora que tanto preciso?”. E ele estava. Todos estão. Apesar das nossas trapalhadas, das lembranças mais pálidas, dos esquecimentos e das impossíveis retratações, se não amamos direito, eles nos sustentam quando bate o vento das inovações arrebentando tudo, revolvendo a terra da nossa alma, derrubando as árvores da alegria e abalando a nossa segurança. Podemos nem saber, nem claramente sentir – mas aqui estão, imortais fragmentos amorosos.
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* Escritora.
Fonte:http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a8153352.xml&template=3916.dwt&edition=30037§ion=70
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