quarta-feira, 31 de março de 2010

As coisas

Jorge Luis Borges*


A bengala, as moedas, o chaveiro,

A dócil fechadura, as tardias

Notas que não lerão os poucos dias

Que me restam, os naipes e o tabuleiro,

Um livro e em suas páginas a ofendida

Violenta, monumento de uma tarde,

De certo inesquecível e já esquecida,

O rubro espelho ocidental em que arde

Uma ilusória aurora. Quantas coisas,

Limas, umbrais, atlas e taças, cravos,

Nos servem como tácitos escravos,

Cegas e estranhamente sigilosas!

Durarão muito além de nosso olvido:

E nunca saberão que havemos ido.
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*Jorge Luís Borges nasceu a 24 de Agosto de 1899, em Buenos Aires. Ficcionista, poeta, ensaísta, é sobretudo como escritor de contos que consegue maior notoriedade
Tradução: Ferreira Gullar

Por Conceição Freitas
Fonte: Correio Braziliense online, 31/03/2010

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