Jorge Luis Borges*
A bengala, as moedas, o chaveiro,
A dócil fechadura, as tardias
Notas que não lerão os poucos dias
Que me restam, os naipes e o tabuleiro,
Um livro e em suas páginas a ofendida
Violenta, monumento de uma tarde,
De certo inesquecível e já esquecida,
O rubro espelho ocidental em que arde
Uma ilusória aurora. Quantas coisas,
Limas, umbrais, atlas e taças, cravos,
Nos servem como tácitos escravos,
Cegas e estranhamente sigilosas!
Durarão muito além de nosso olvido:
E nunca saberão que havemos ido.
___________________________ *Jorge Luís Borges nasceu a 24 de Agosto de 1899, em Buenos Aires. Ficcionista, poeta, ensaísta, é sobretudo como escritor de contos que consegue maior notoriedade
Tradução: Ferreira Gullar
Por Conceição Freitas
Fonte: Correio Braziliense online, 31/03/2010
Nenhum comentário:
Postar um comentário