Eric Kinkler, presidente da BitTorrentUma revolução na troca de arquivos pela internet começou a tomar forma quando o programador norte-americano Bram Cohen desenvolveu o protocolo BitTorrent, em 2003. A tecnologia permitia que, em vez de baixar todo o conteúdo de uma única fonte, os usuários com o programa instalado em seus computadores pudessem partilhar entre si simultaneamente as partes já descarregadas do mesmo arquivo. Depois de recebidas, as partes são remontadas automaticamente. O sistema acelerou a troca de conteúdo na rede e, consequentemente a pirataria, o que sempre cercou de polêmica a ferramenta .
Em 2007, já constituída como uma empresa batizada com o mesmo nome de sua ferramenta inovadora, a BitTorrent lançou um portal (www.bittorrent.com) pelo qual era possível fazer o download autorizado de filmes, games e videoclipes de gigantes do entretenimento como Warner Bros, 20th Century Fox, MTV, entre outros, mediante pagamento. A BitTorrent estima ter uma base instalada de 160 milhões de clientes em todo o mundo. Amanhã, o atual presidente da BitTorrent, Eric Kinkler, estará em São Paulo participando do Web Expo Forum, evento sobre o mercado de internet, onde falará sobre o modelo de negócios de sua empresa. Antes de vir ao Brasil, Kinkler conversou por e-mail com Zero Hora. Confira os principais trechos da entrevista.
Zero Hora – O BitTorrent introduziu uma tecnologia inovadora para troca de arquivos na internet. Qual foi a inspiração para Bram Cohen e sua equipe?
Eric Kinkler – Bram criou a tecnologia mais ou menos como um projeto pessoal. Sua motivação era simples: ele viu o problema como um desafio técnico interessante para solucionar. Como ele poderia criar um sistema de entrega na internet confiável usando milhões de elementos não confiáveis – os outros usuários?
ZH – Ao contrário de outras ferramentas de torrent que surgiram nos anos seguintes, a BitTorrent se consolidou como empresa e buscou parcerias para distribuir conteúdo de forma legalizada. Como surgiu a ideia desse modelo de negócio?
Kinkler – A forma de pensar era muito simples: como a tecnologia poderia ser usada para ajudar a distribuição de conteúdo e como o público atraído pela tecnologia poderia ser usado como um canal para os produtores desse conteúdo.
ZH – Quais são as principais empresas que têm o seu conteúdo distribuído por meio da BitTorrent?
Kinkler – Tivemos mais de 55 parceiros no BitTorrent Entertainment Network. Nomes como Fox, Lionsgate, Paramount, Warner Bros, Warner Music e muitos outros que usam a tecnologia. Talvez o exemplo mais significativo seja a Activision com o jogo online World of Warcraft, indiscutivelmente um dos games de maior sucesso de todos os tempos. O game usa a tecnologia BitTorrent para ajudar na distribuição de grandes atualizações para seu público de milhões de usuários.
ZH – A BitTorrent tem planos de investir ou formar parcerias no Brasil? O mercado brasileiro já está maduro?
Kinkler – Nós temos muitos usuários no Brasil e vemos o mercado como um dos mais importantes na internet. Com nossa popularidade regional, sentimos que há uma oportunidade significativa para os criadores de conteúdo brasileiros abraçarem o canal BitTorrent para ter seus trabalhos distribuídos.
ZH – Na sua opinião, a distribuição de entretenimento por meio de mídias físicas (CDs, DVDs e livros) está com seus dias contados?
Kinkler – Sempre haverá um espaço para bens físicos. Antes da digitalização, cada novo formato não substituía seus antecedentes. Ainda há um mercado vibrante para música no vinil, por exemplo. Mas, cada vez mais, a digitalização continuará em seu curso para se tornar o formato dominante em volume.
ZH – Como o senhor avalia o uso feito hoje das redes de compartilhamento de arquivos (P2P) para download ilegal? O princípio da tecnologia desenvolvida pela BitTorrent foi deturpado?
Kinkler – Esse problema não foi criado pela BitTorrent. Mas com o surgimento da internet como um meio barato de distribuição, o problema foi amplificado. Apesar de existirem tantos usos individuais para a tecnologia BitTorrent que nós não apoiamos, também são significativas as oportunidades legítimas que a tecnologia criou para produtores de conteúdo. Com a evolução tecnológica, negócios devem se adaptar para permanecerem bem-sucedidos, e nós sentimos que podemos ter um papel muito positivo nesta questão.
ZH – Na sua opinião, quem faz download de conteúdos protegidos por direitos autorais deve ser responsabilizado criminalmente?
Kinkler – Bem, nós não somos advogados, mas técnicos. Não temos a resposta para esta questão. Quando os concorrentes são nivelados por novas tecnologias, como a internet, é comum que os consumidores sintam mais poder. E como em qualquer negócio focado no consumidor, temos de encontrar formas de oferecer-lhes valor.
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FONTE: ZH online, 17/03/2010
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