Célio Pezza*
O poeta russo Nikolai Nekrasov (1821-1878) disse certa vez: “No mundo impera um czar impiedoso: Fome é o seu nome!”. Ele estava certo. De acordo com a FAO (Food and Agricultural Organization), entidade da Organização das Nações Unidas (ONU), tivemos, em 2009, mais de 1 bilhão de pessoas no mundo passando fome. Este é o mais alto índice desde 1970, quando começaram a fazer estatísticas oficiais sobre o assunto. Este mal se concentra nos países não desenvolvidos e é a maior vergonha para o planeta.
Também de acordo com a ONU e a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), temos entre 9-10 milhões de pessoas que morrem de fome por ano. Deste total, perto de 7 milhões são crianças com até 5 anos de idade. A fome é a principal causa de mortalidade no mundo, acima de qualquer doença.
Em 1974, durante uma conferência mundial sobre alimentação, a ONU reiterou que “todo homem tem o direito de ser livre da fome e da desnutrição”. Já a comunidade internacional deveria ter como objetivo garantir o acesso de todos ao alimento suficiente para uma vida sadia. Os anos se passaram, e em 2009, durante outra reunião, concluíram que, apesar de todos os esforços, a fome no mundo aumentou.
A fome é como uma doença que afeta uma classe bem definida: aquela que não tem o mínimo recurso para pagar pela comida! Ela não afeta todas as classes da sociedade nem todos os países. Ela não pode ser classificada como uma pandemia, pois não é contagiosa. Mas ela mata mais do que qualquer doença existente na Terra.
Há quem a classifique como uma doença social, e há quem diga que é inerente à civilização e que sempre existiu. Uns dizem que é falta de alimentos, mas, na verdade, o que falta é o acesso aos alimentos. A comida existe, e o desperdício é grande! As falhas de colheitas, transporte e armazenamento, o ato de jogar fora por questões econômicas e para manter os preços, e a ganância desenfreada de quem vive da desgraça alheia só contribuem para esta vergonhosa situação. O nosso próprio lixo é uma afronta a quem não tem o que comer.
Muitos peritos nas questões de fome afirmam que a melhor maneira de reduzi-la é através da educação, pois as pessoas instruídas têm mais capacidade de sair do ciclo de pobreza que provoca a fome. Evidente que é necessário alimentar quem tem fome, mas o mais importante é dar condições para o ser humano ter uma boa educação que possibilite a sua emancipação, libertando-o da dependência de esmolas e doações de quem tem maior poder econômico.
Dentro deste contexto, é interessante observar as recentes campanhas da fraternidade da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), que elegeram para o ano de 2010 o tema Economia e vida, com o lema de que não se pode servir a Deus e ao dinheiro. Para 2011, também já foi escolhido o tema Fraternidade e vida no planeta, com o enigmático lema A criação geme em dores de parto. Uma dor de parto precede um nascimento. Será muita utopia imaginar que está para nascer um novo mundo sem a fome?
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*Célio Pezza é escritor, com formação acadêmica em química e administração de empresas. Fonte: Jornal do Brasil online, 10/03/2010
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