As discussões sobre a existência de Deus não são científicas, a não ser entre interpretações de filosofias religiosas ou ateias, disse o professor de filosofia da Universidade Pontifícia de Cracóvia, o sacerdote polonês Michael Heller, que em 2008 recebeu o prêmio Templeton, o de maior valor econômico do mundo.
Michael Heller afirmou durante uma entrevista que a ciência não pode negar a existência de Deus porque simplesmente tem um método que se baseia na análise matemática e na experimentação e acrescentou que, matematicamente, não se pode provar a existência de Deus, "e muito menos empiricamente".
A ciência também não pode negar a existência de Deus, afirmou o também cosmólogo, que explicou que o certo é que a ciência pode ser interpretada de acordo com uma filosofia religiosa ou ateia, e é nesse âmbito que se produzem as discussões.
Discussões que, continuou Michael Heller, ocorrem sempre entre interpretações, entre pontos de vista e não tanto no âmbito da ciência, que é, insistiu, neutra com relação à existência de Deus.
Michael Heller recebeu o prêmio Templeton em 2008, e muitas pessoas interpretaram que ele ganhou a homenagem por oferecer, por meio da matemática, provas indiretas da existência de Deus, algo que para ele não tem sentido. O prêmio é concedido a pessoas que constroem pontes entre a ciência ou a mentalidade científica e a religião, afirmou.
Michael Heller disse que o certo é que a fé é mais importante para chegar a Deus, mas tem que ser de um modo racional, pois afirmou que a fé irracional "simplesmente não tem valor", e acrescentou que, em geral, pensa-se que a fé é uma coisa emotiva e até irracional, mas afirmou que ela deve estar baseada nos princípios do racional.
Esse filósofo e cosmólogo esteve em Tenerife, na Espanha, para participar de um curso sobre a cosmologia moderna e a inteligibilidade do Universo, organizada pela Universidade Menéndez Pelayo em colaboração com o Instituto Superior de Teologia de Canarias.
Durante a entrevista, Michael Heller também falou da incerteza, algo com o que nos encontramos tanto no âmbito da fé, como no da ciência. Ele indicou que, na ciência, também não existe algo que seja absolutamente seguro, inclusive a aritmética, que, acrescentou, é algo fundamental na matemática, mas que tem suas limitações.
Nesse sentido, ele lembrou que, na primeira metade do século passado, produziu-se um certo "terremoto" quando o matemático austríaco Kurt Gödel formulou um teorema segundo o qual, se a aritmética não é contraditória, então não é completa.
Além disso, Michael Heller disse que a fé religiosa é, em certo sentido, um risco intelectual, e a questão é que esse risco seja intelectualmente fundamentado.
No âmbito da cosmologia, Michael Heller comentou que existe um modelo para o qual estamos em um Universo aberto que irá se expandir de maneira infinita até morrer, algo para o qual as últimas observações apontam, acrescentou.
Mas só se fala de um ciclo, pois não se sabe o que aconteceu antes do Big Bang, ou da Grande Explosão com a qual a vida no Universo teria começado, e também não sabemos o que irá ocorrer depois da expansão.
No congresso em que Michael Heller participou, também estava o doutor em cosmologia Eeric Aris Stengler e também o professor de filosofia da Universidade Pontifícia de Cracóvia, Janusz Maczka, dentre outros
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A reportagem é da agência Efe, 29-03-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: IHU, 30/03/2010
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