segunda-feira, 15 de março de 2010

Cuidado e proteção

Fábio Toledo*

Certa vez ouvi de um especialista em relacionamento conjugal que uma grande causa de desavenças no casamento decorre das expectativa que o homem e a mulher trazem para a vida matrimonial. E dizia: “o homem, quando se casa, acha que a mulher não vai mudar; e ela, ao contrário, acredita que vai conseguir mudar o marido”. Ou seja, ele pensa que o corpo dela vai permanecer sempre firme e com aquelas silhuetas tão atraentes; ela, espera que com o tempo ele se torne mais afetuoso e atencioso, que saiba dar mais importância para estar com ela que para o futebol com os amigos.

Temos então um ingrediente perfeito para uma crise conjugal, exatamente como consequência da frustração dessas expectativas. Mas essa situação pode ser evitada se cada um mudar o foco. Ou seja, olhar menos para o que espera do outro e mais para o que se pode ser e fazer pelo outro. E para isso é de extrema importância considerar os papéis que, por natureza, o homem e a mulher são chamados a desempenhar.

O homem tem como que um instinto, se é que se pode chamar assim, de proteção. Desde criança isso se pode notar nas brincadeiras que mais lhe apetece como o guerreiro, o cavaleiro ou mocinho sempre pronto a lutar contra alguém para proteger seja lá o que for, inclusive o planeta de um possível ataque alienígena. É bem verdade que essa missão de lutador fica muito patente nos esportes, onde no fundo quer vencer para que seja admirado e querido, em especial por elas, quando já se atinge a adolescência. A mulher sente prazer em cuidar. De certo modo as brincadeiras de boneca e de casinha refletiam isso de forma palpável.

O homem gosta de ser cuidado e a mulher de ser protegida. Mas então por que não dão certo muitos relacionamentos? Muitas vezes porque se esquecem desse dado mais elementar. Talvez como uma espécie de rebelião contra a situação de inferioridade e discriminação por que passou e ainda passa mulher, vive-se a todo tempo tentando convencê-la de uma autossuficiência que é irreal, como tampouco ele é autossuficiente, de modo que se busca abafar qualquer adjetivo que a possa qualificar como frágil e, por esse motivo, carente de proteção. Verdadeiramente de fraca ela não tem nada, ao contrário, é muito mais forte em muitíssimos aspectos. Aliás, não há expressão maior de fortaleza do que cuidar. E não há fraqueza em querer proteção. É fraco o policial que usa o colete à prova de balas ou o motociclista que usa capacete?

Mas esses conceitos de cuidado e proteção devem ser aprofundados com o passar do tempo. O homem se sente cuidado quando ela se mantém bem arrumada, organiza com bom gosto as coisas da casa e, muito especialmente, quando se mostra receptiva para uma relação íntima. E ela também se sente protegida quando ele a abraça com frequência, mostra-lhe carinho e apreço, que a elogia especialmente diante dos filhos. Mas isso, embora muito importante, é como que uma primeira camada do amor conjugal. No fundo, mas sem deixar de desempenhar os papéis que lhes são próprios, está a benevolência, a doação desinteressada pelo outro. Para se atingir esse nível de maturidade, que trará a verdadeira felicidade, deve haver a disposição de se sacrificar pela felicidade do outro. Paradoxalmente, é somente então que se encontra a própria felicidade no casamento.

Um dia desses vi um casal de velhinhos passeando juntos por uma praça. Repentinamente veio contra eles uma bola chutada por uns garotos. Ele, instintivamente, adiantou-se para proteger a esposa de uma possível bolada. Passado o perigo, ao retomarem a caminhada, ela se pôs a ajeitar-lhe a gola da camisa, que para os exigentes olhos femininos não estaria bem cuidada. Cuidar e proteger: eis diante de nossos olhos a receita comprovada de um casamento duradouro e feliz.
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*Fábio Henrique Prado de Toledo é juiz de Direito em Campinas
Fonte: Correio Popular online, 15/03/2010

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