sábado, 1 de maio de 2010

Atualizar ou morrer

Eduardo Lorea

Todos nós conhecemos gente que está sempre por dentro da última. Tu não sabes da última, anuncia o outro, como um trunfo sobre nós, os ignorantes instantâneos. Deve ser algo importante, isso de saber da última. Um dos blogs mais acessados do Brasil se chama Update or die (atualizar ou morrer, em tradução livre). Quando criei um, anos atrás, e me vi sem lá muito o que escrever, deixei como primeira mensagem uma nota frustrada: nasci e já estou desatualizado.

Há dois problemas em saber das últimas no nosso tempo. O primeiro é que há muitas delas. Há as últimas dos sites de notícias, da Susan Boyle – “essa é velha”, alguém vai dizer – no YouTube, da Xuxa no Twitter, do Felipe Dylon no Tumblr, daquele amigo que está em Londres no Facebook. Tudo parece imperdível, e quem não estiver por dentro padecerá em silêncio nas rodas de fofoca.

O segundo é que nós e nossos amigos somos autores de últimas, como o William Bonner foi, se não desistir do twittercídio. A tela do Twitter, com aquele monte de gente falando, nossos colegas comentando o tempo, outros indicando leituras, fotos engraçadas, músicas, vídeos, tudo aquilo faz com que nós pareçamos uns atrasados caso não façamos o mesmo. Já há sites que medem a reputação online, baseada na quantidade de citações online que uma pessoa recebe. Para receber citações, é preciso falar, é preciso produzir últimas.

Esse tanto de últimas a saber e a gerar nos lembra a necessidade de escolher. Não por acaso uma das funções que vem ganhando destaque entre profissionais de internet é a de curador, alguém que seleciona os conteúdos que merecem ou não receber atenção, afinal há por aí coisa demais para ser vista, a ponto de que há ansiedade patológica associada à atualização constante. Como Bonner, há quem cure sua existência online optando por desatualizar. Ou morrer.
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Fonte: ZH online, 01/05/2010

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