'Mal tenho conseguido dormir',
diz Teixeira
O desenvolvedor de softwares Fábio Teixeira, de 30 anos, mal tem conseguido dormir desde que foi anunciado, no dia 23 de abril, como o grande vencedor do concurso de bolsas para estudar na Singularity University (SU), instituição com sede no Vale do Silício, na Califórnia.
Ele embarca para os Estados Unidos no dia 19 de junho e, durante dez semanas, terá aulas sobre temas cabeludos como nanotecnologia, robótica e inteligência artificial. Teixeira ficará hospedado com outros 79 participantes de todo o mundo em um centro de pesquisas da Nasa, a agência espacial americana.
O brasileiro formou-se em 2009 pela Fiap, que neste ano firmou com a SU o primeiro convênio internacional da universidade americana. Teixeira concorreu com outros 228 alunos e ex-alunos da Fiap, que tiveram de apresentar projetos para responder à pergunta: “Qual é sua proposta de inovação tecnológica que pode transformar e trazer valor agregado à vida de pelo menos um milhão brasileiros nos próximos quatro anos?”.
A comissão julgadora, formada por professores e diretores da Fiap, avaliou os projetos de acordo com quatro critérios: visão empreendedora, relevância nacional, coerência e viabilidade. Teixeira ganhou com o Wikitrânsito, um sistema colaborativo de acompanhamento das condições do transito na cidade, que indica as melhores rotas de forma personalizada e permite a integração com o transporte público via GPS. Os prêmios? Uma bolsa de estudos no valor de US$ 30 mil e a oportunidade de estampar no currículo a passagem pela SU, considerada a “Universidade do Futuro”.
Confira abaixo alguns trechos da entrevista com Fábio Teixeira:
Como tem sido esses dias à espera da viagem?
É uma pena que só viajo em junho, porque mal estou conseguindo dormir. Fico pensando no que vou aprender, em quem vou conhecer… São pessoas de todo o mundo que têm interesse por esse curso e gastam muito dinheiro para fazê-lo. Será uma oportunidade única na minha vida e na minha carreira, que abrirá muitas portas no futuro.
Como será o curso na SU?
São 7 semanas de aulas teóricas e, nas últimas 3 semanas, os professores fazem uma proposta de trabalho em grupo: encontrar uma solução, usando tecnologia de ponta, que beneficie um bilhão de pessoas pelos próximos 10 anos.
De onde veio a ideia do Wikitrânsito?
Esse é um projeto de dois anos, desde que entrei na faculdade. Queria produzir algo que ajudasse as pessoas e o Wikitrânsito foi o tema do meu TCC.
Mas como surgiu a ideia?
Quando eu comprei um navegador GPS e no manual tinha falando de um tal TMC. Fui pesquisar e vi que é uma tecnologia que permite o envio de informações de trânsito para o GPS, para que o aparelho tenha uma navegação dinâmica. Descobri que há uma agência suíça responsável por regulamentar o TMC e que já tinha gente trabalhando com isso aqui no Brasil para lançar um produto.
E o que você fez?
Eu queria uma solução que pudesse atingir uma série de pessoas, porque nem todo mundo tem carro. E a tecnologia que todo mundo dispõe é o celular.
Onde está a novidade do projeto?
Hoje nós temos a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e algumas rádios que prestam esse serviço de divulgar informações de trânsito em tempo real. Eu tive a ideia de criar um único repositório central em que todos pudessem trabalhar juntos, agregando informações sobre o trânsito.
Como pode ser aplicado o projeto?
São Paulo tem 18 mil quilômetros de vias, e a CET só cobre 830 quilômetros, o que é um problema. Então, como aumentar a área de monitoramento? Escutando rádio eu vi que algumas pessoas têm o costume de ligar para a emissora para falar sobre a situação do trânsito, ou seja, existe um espírito colaborativo. A ideia é colocar uma ferramenta poderosa nas mãos das pessoas para aumentar a abrangência da cobertura.
Mas como?
O colaborador poderá reportar informações de trânsito por meio do celular, em tempo real, por meio de um aplicativo específico que a gente desenvolveu para smartphones. É colocar o poder nas mãos das pessoas. Mesmo que apenas 1% dos paulistanos sejam colaboradores, já é muita coisa.
E os usuários de transporte público?
Algumas linhas já têm GPS, informando lá no terminal a que horas o ônibus deve chegar. Esse projeto meio que morreu na praia. O que fizemos? Com o rastreamento do transporte público eu consigo obter a velocidade média da malha viária em tempo real. E uma segunda informação: como eu tenho a localização do ônibus, consigo dizer a hora exata que ele vai passar no ponto. Assim, as pessoas não perdem tempo e podem usar esses minutos para fazer outras atividades.
O Wikitrânsito seria um serviço pago?
Não queremos isso. O sistema depende da quantidade de pessoas que acessam e contribuem com informações, e pode ser implantado em qualquer cidade do mundo. Precisamos de alguém que acredite e invista nessa ideia. Quem sabe a gente não consegue isso na SU?
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Por Carlos Lordelo Fonte: Estadão online, 06/05/2010
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