ADÉLIA PRADO
Você reza demais, Luzia.
Que aborrecimento esta sua pressa
em fugir pro jardim com seu rosário.
Quem me dera, mesmo, dia e noite rezar,
estou oca de medo.
É admirável que com palpitações e boca seca
eu suba escada para ver do muro
quem fala tanto palavrão.
Rezar demair é ter rezado nada.
Invejo o bruto,
o que enfia tudo no de todo mundo
e não tem medo de Deus.
Quem me dera os lobos fossem fora de mim,
bastava um pau e os afuguentaria.
Mas seus fantasmas é que uivam inalcançáveis.
Só a oração os detém,
a que ainda não sei como fazer.
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Fonte: PRADO, Adélia. A duração do dia, Ed. Record. RJ, 210, pg.73
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