segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O preço alto das vidas longas

 NATASHA SINGER*
Imagem da Internet

Envelhecimento pode deixar nações despreparadas na miséria

Primeiro, a boa notícia:
Estamos vivendo mais e com mais saúde do que nunca. A expectativa de vida na Espanha, Grécia e Áustria, por exemplo, dobrou durante o século 20.
Agora a má notícia: nesse ritmo, não poderemos nos dar ao luxo de viver tanto.
Pela primeira vez na história humana, as pessoas com 65 anos ou mais devem se tornar mais numerosas que as menores de 5 anos. Em muitos países, o número de idosos com direito a aposentadorias públicas, serviços de saúde e cuidados prolongados em breve irá superar a força de trabalho, que paga impostos para custear esses benefícios. Nenhuma outra força deve moldar tanto o futuro das economias nacionais, das finanças públicas e das políticas governamentais, segundo uma nova análise da Standard & Poor's sobre o envelhecimento global.
Como os países mais desenvolvidos estão se preparando para a explosão da população idosa -e para as despesas decorrentes?
Em geral, não muito bem.
A não ser que os governos implementem amplas mudanças nos gastos públicos relacionados aos idosos, as dívidas soberanas podem se tornar insustentáveis, rivalizando com os níveis registrados durante cataclismos como a Grande Depressão ou a Segunda Guerra Mundial, segundo relatório da S&P.
Então, o que fazer?
Antes de mais nada, os governos deveriam elevar a idade de aposentadoria, diz Marko Mrsnik, principal autor do relatório. Outra ideia óbvia, afirma ele, é que os governos deveriam equilibrar seus próprios orçamentos.
Infelizmente, os cidadãos nem sempre veem lógica na restrição aos benefícios públicos a fim de manter a solvência nacional. Veja o caso da França, onde mais de 1 milhão de pessoas saíram às ruas recentemente para protestar contra uma reforma que eleva a idade mínima de aposentadoria de 60 para 62 anos.
Além do mais, segundo especialistas, medidas como reformas previdenciárias são respostas inadequadas à gigantesca mudança demográfica iminente.
Uma solução para a crise seria uma reação colaborativa em massa, análoga ao Projeto Manhattan ou à corrida espacial, diz Michael Hodin, pesquisador da entidade Conselho de Relações Exteriores.
Governos, iniciativa privada e agências internacionais, diz, terão de trabalhar juntos para transformar a própria estrutura social, por meio da criação de empregos e programas educacionais para pessoas na faixa dos 60 e 70 anos -a hipotética nova meia-idade- e do combate a doenças como o Alzheimer.
"O que precisamos é de uma transformação muito fundamental e profunda, que seja proporcional às mudanças sociais que nos aguardam", disse Hodin.
Uma sugestão simples: grupos e organizações internacionais influentes deveriam assumir o envelhecimento como uma causa, a exemplo do que fizeram com o ambiente. Embora a ONU tenha adotado oito "metas de desenvolvimento do milênio" para 2015, a lista não incluiu medidas pela sustentabilidade e igualdade das populações idosas.
"É bastante inaceitável que o envelhecimento não tenha sido incluído nessas metas", diz a baronesa Greengross, integrante da Câmara dos Lordes britânica e executiva-chefe do Centro Internacional da Longevidade no Reino Unido.
Outra sugestão: os governos devem começar a restringir o crescimento dos gastos com saúde, antes do iminente "terremoto dos idosos".
Ao mesmo tempo, os políticos também precisam começar a educar os cidadãos para que entendam que uma maior longevidade pode implicar sacrifícios pessoais, inclusive maior participação nos seus gastos médicos.
Mas a abordagem das recompensas pode ser melhor que a das penalidades, diz Laura Carstensen, professora de psicologia da Universidade Stanford e diretora do Centro para a Longevidade de Stanford.
Governos e iniciativa privada poderiam desenvolver incentivos para manter os mais velhos trabalhando, afirma. Esses incentivos podem incluir bônus para quem trabalhar até os 70 anos, e isenção da contribuição previdenciária patronal relativa a empregados acima da idade de aposentadoria.
Finalmente, governos e empresas talvez precisem ver a população idosa não como um ônus, mas como fonte de conhecimento.
A baronesa Greengross cita uma lei sobre igualdade, recentemente aprovada na Grã-Bretanha, que proíbe a discriminação contra idosos que procurem bens ou serviços como hipotecas e locação de veículos.
Separadamente, diz, o país vai no ano que vem eliminar sua idade básica de aposentadoria, de 65 anos.
"Em longo prazo, eu gostaria de ver a irrelevância da idade", diz a baronesa, "em que as pessoas não sejam rotuladas só por seus aniversários".
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*Ensaio
Fonte Folha online - New York Times, 25/10/2010

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