CARLOS SLIM*
KANDEH K. YUMKELLA**
Imagem da Internet
Se você está lendo esse artigo, é provável que tenha eletricidade e calor em casa e nunca pense nisso como algo excepcional. Porém, mais de 2 bilhões de pessoas – um em cada três habitantes de nosso planeta – não têm acesso a energias modernas para luz e calor onde vivem.
Os obstáculos não são técnicos. Nós sabemos como construir sistemas de energia, criar fornos a lenha modernos e atender à demanda de modo eficiente. O que falta é um comprometimento global que promova a importância da energia nas discussões políticas e de desenvolvimento.
Metade da população mundial usa combustíveis sólidos, como madeira, carvão ou esterco para cozinhar. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, 1,6 milhão de mulheres e crianças morrem a cada ano por causa da aspiração de fumaça. É mais do que o número de mortes por malária. Acrescente às emissões de poluentes de tais fornos o desmatamento florestal e você terá diversos desafios globais urgentes que podem ser impedidos ao se fechar essa lacuna de energia.
"Metade da população mundial usa combustíveis sólidos,
como madeira, carvão ou esterco para cozinhar.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde,
1,6 milhão de mulheres e crianças morrem a cada ano
por causa da aspiração de fumaça."
Os esforços para resolver o problema têm sido, até o momento, insuficientes em escala e em alcance. Agora, porém, existe uma plano de ação desenvolvido nos últimos meses pelo Conselho de Energia e Mudança Climática (AGECC, na sigla em inglês) do Secretário-Geral das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon. O conselho reúne altos funcionários das Nações Unidas e executivos de empresas como Edison International, Statoil, Suntech Holdings e Vattenfall.
Por meio dessa inovadora parceria público-privada, nós analisamos o acesso global à energia, e recomendamos, no relatório final, que a comunidade internacional se comprometa com o acesso universal a serviços energéticos modernos até 2030. O relatório também aponta a necessidade de aumentar em 40% a eficiência energética no mesmo ano. Caso implementada, a medida duplicaria a capacidade global.
Agora, a AGECC está trabalhando na melhor maneira de implementar o plano. Esse foi o foco da última reunião do grupo, no dia 15 de julho, na Cidade do México. O encontro foi organizado pela Fundação Carlos Slim, que trabalha para implementar as Metas de Desenvolvimento do Milênio em áreas como saúde, desmatamento e exclusão digital.
O México será o local chave para as discussões sobre clima no fim deste ano, e a AGECC está negociando com o ministro de Energia do país para garantir uma abordagem coordenada e efetiva.
As implicações financeiras de assegurar o acesso energético universal são grandes, mas não esmagadoras, caso levarmos em conta os enormes benefícios. A Agência Internacional de Energia estima que, nas próximas duas décadas, garantir o acesso à eletricidade exigiria em torno de 10% do investimento total no setor, que pode ser mobilizado pela iniciativa privada. O acesso universal à energia é uma nova oportunidade de mercado que necessita do devido apoio para prosperar.
Muitas tecnologias limpas já estão disponíveis, logo, não estamos falando de investimentos de bilhões de dólares em pesquisa. É apenas uma questão de transferir as tecnologias e adaptá-las às realidades locais.
Aumentar o acesso à energia, porém, não é apenas qualificar seu fornecimento, com fornos e lâmpadas mais eficientes. Para promover o desenvolvimento e o crescimento econômico, esses serviços também precisam trabalhar para promover a criação de riqueza e de empregos, fornecendo energia para empresas e beneficiando saúde, educação e transporte.
Os governos, sozinhos, não poderão lidar com todos esses desafios. Precisamos de um compromisso firme de todos os lados: empresas privadas, academia, sociedade civil, organizações internacionais e organizações não-governamentais.
O prazo para entregarmos o acesso universal à energia é 2030. Você vai tomar parte?
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* é presidente da Fundação Carlos Slim e membro do Conselho de Energia e Mudança Climática (AGECC) da ONU
** é diretor geral da Organização para o Desenvolvimento Industrial da ONU e presidente da AGECC e da ONUEnergia
Tradução: Cláudio Rabin
Fonte: ZH online, 18/10/2010
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