BENEDICT CAREY*
Imagem da Internet
Más ações podem estar mais perto do presente do que lembramos
Uma filha jovem morando em casa. Sogros doentes ou dependentes. Ausência de poupança ou renda adequada. E lá estava trabalhando em uma grande loja de departamentos que ganhava muito dinheiro. Quem sentiria falta de alguns artigos aqui e ali -uma jaqueta, alguns cosméticos?
"Eu sabia que estava errada e sabia que provavelmente seria apanhada", disse a ladra, que recentemente contou seus atos da década de 1980 para pesquisadores que estudam opções morais. "Depois disso, eu realmente me convenci de que ia consertar a minha vida e seguir o bom caminho."
Os últimos anos psicólogos revelaram as diversas maneiras como as pessoas subconscientemente massageiam sua autoimagem moral. Hoje, os cientistas começam a aprender que, ao juntar as partes de uma história de vida, a mente empurra os lapsos morais para trás no tempo e aproxima as boas ações -criando na verdade uma autobiografia alterada. Reconhecer essa tendência em si próprio, dizem os psicólogos, pode ao mesmo tempo reduzir o risco de cair na virtuosidade hipócrita da meia-idade e aumentar a vigilância moral para quando é mais importante: o presente.
"Não podemos reformar o passado, mas o cérebro tem dificuldade para situar os acontecimentos no tempo, e somos capazes de mudar os elementos de lugar", disse Anne E. Wilson, psicóloga social na Universidade Wilfrid Laurier em Waterloo, Ontário (Canadá). "O resultado é que conseguimos criar uma história pessoal que, se não perfeita, nos faz sentir que estamos melhorando cada vez mais."
Neurocientistas do Instituto de Tecnologia da Califórnia em Pasadena recrutaram cem pessoas entre 40 anos e 60 anos para participar do que foi descrito como um estudo da memória. Respondendo a dezenas de estímulos, elas despejaram suas lembranças.
Uma pessoa confessou ter furtado um bloco de anotações de um empregador, outra que roubou livros quando era uma jovem pobre no México. Uma terceira admitiu trair seu marido. Um ex-viciado em drogas lembrou de que cometeu um assalto armado de faca ("eu só me lembro da adrenalina -me deu uma sensação de grande poder").
As más ações mais comuns eram as mais lamentadas: furtar, seguido de trapacear (seja a um parceiro romântico ou em uma prova) e mentir.
Os participantes voltaram semanas depois e deram notas para cada uma de suas histórias em diversas escalas, incluindo as emoções que sentiram no momento e a data estimada em que o episódio aconteceu.
Depois de corrigir a idade na época das memórias (em outras palavras, tentar levar em conta as maluquices da juventude), os pesquisadores identificaram um padrão nítido: as pessoas datavam suas memórias de erros morais cerca de dez anos antes, em média, que as memórias de boas ações.
Os doutores Adolphs e Escobedo afirmam que, para falar sobre os lapsos morais, as pessoas precisam primeiro de tempo para se reimaginar como tendo evoluído.
"As pessoas honestamente veem seu passado sob uma luz moral crítica, mas ao mesmo tempo tendem a enfatizar que têm melhorado", concluíram os autores.
Outros pesquisadores notam que muitos fatos desagradáveis parecem mais distantes do que são na verdade, e não apenas os que têm uma carga moral. Mas a mente parece especialmente inclinada a recuar no tempo quando se trata de atos cruéis, mesquinhos ou covardes.
"A coisa mais estranha ao ler sobre todas essas opções morais é que isso o faz mais ou menos sentir-se bem consigo mesmo", disse Escobedo. "Apenas ver que todo mundo comete erros e lamenta não ter feito o que é moralmente certo: isso o faz sentir-se mais ligado à humanidade."
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* The New York TimesFonte: Folha de S.paulo The New York Times, 18/10/2010
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