Padre João Batista Libanio*
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Em tempos de crise ecológica, a espiritualidade franciscana surge como maravilhosa proposta e resposta.
São Francisco saiu da hagiologia católica, para tornar-se cidadão do mundo inteiro. Viveu poucos anos na Idade Média; no entanto, marcou a história de maneira indelével e hoje ocupa plano de destaque.
Três traços de sua espiritualidade merecem atenção especial: fraternidade universal, simplicidade despojada, pobreza livre. Antes de tudo, Francisco venceu os ódios, as lutas, as cobiças, os entreveros entre os humanos e deles contra a natureza nos inícios do capitalismo. O Ocidente começava a pôr os dentes de fora daquele que se tornará o flagelo dos dias de hoje.
Olhar ganancioso já existia na Idade Média. J. Gimpel, especialista na história da tecnologia, escreve que a destruição do ambiente e a poluição existiram naquele período da história de modo muito acentuado, seja por causa das indústrias de vidro que queimavam muita madeira, seja por causa dos curtumes e abate de animais que poluíam as águas das cidades.
Francisco já agia profeticamente ao defender a natureza, ao revelar a fraternidade do ser humano em relação, não somente aos seus semelhantes humanos, mas em relação a toda vida. Antecipou a dimensão de cuidado em relação à natureza. Compôs no final da vida o “Cântico das Criaturas” ou “Cântico do Irmão Sol”, hino de louvor a Deus pelo esplendor da criação. Texto maravilhoso e de fino teor poético.
Hoje esse discurso soa altamente atual, despertando- nos para autêntica mística ecológica na defesa contra a horrível devastação da natureza, contra a poluição das águas e do ar, contra o envenenamento do solo por meio dos agrotóxicos. Francisco devolve a sacralidade à Terra.
Tal movimento espiritual pede mudança e conversão. Esta se chama vida simples. Se continuarmos com o desperdício, com o consumismo desvairado, não haverá_ possibilidade de manter a natureza. Não há_bens renováveis para tamanha exploração. Junto com a proteção do biossistema, o espírito de Francisco conduz-nos a diminuir os gastos com hábitos de sobriedade.
Ele vai mais longe. Fala-nos de espírito de pobreza, de amor aos pobres, de vida pobre. Expressões que soam altamente estranhas na sociedade pós-moderna da fruição, do prazer, da abundância de bens materiais. Francisco não simplesmente pregou a pobreza, mas a viveu.
E quis morrer na extrema pobreza, colocado ao solo na desnudez do corpo, símbolo de uma vida voltada para valores espirituais de fraternidade e simplicidade. A pobreza o cobriu como última veste.
Com maravilhosa sensibilidade humana, poética e religiosa escreveu com a vida e deixou consignado no cântico das criaturas, verdadeira carta espiritual da ecologia. Está proclamada para sempre a grande fraternidade cósmica: Sol, Lua, Terra, animais, e até a morte fazem parte de nossa família como irmãos e irmãs.
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* Padre João Batista Libanio - professor na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE)
Fonte: Jornal Opinião - outubro/2010
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