Joaquim Zailton Bueno Motta*
“Reflexões para o Despertar da Consciência Ética”, uma coletânea de 300 páginas sobre esse valor humano essencial, publicado pela Loyola e patrocinado pela Fapec.
O livro circula pelas mais diversas áreas e especialidades. Das ciências exatas às humanas, do esporte à arte, da moral à corporação, do amor ao mercado, da justiça à filosofia, da religião à internet, do meio ambiente à educação, encontramos pensamentos e referências diversificadas e instigantes.
Foram quatro anos de dedicação e persistência dos organizadores Norberto Carlos Weinlich e Adriana Maria Canto Piron Donadon, mais a participação de Claudino Piletti e David Bianchini, co-organizadores. Eles fizeram os convites, classificaram os textos, reatualizando-os conforme passava o tempo e a publicação não estivesse assegurada. Publicar um livro no Brasil é epopeia nem sempre grata — imaginem uma coletânea, com muitos participantes e diferentes setores.
O trabalho é bem democrático e aberto, oferecendo ideias e sugestões para o leitor criar suas próprias referências sobre o tema e suas aplicações.
Graças a esses esforços de profunda inspiração ética e motivação amorosa, teremos a satisfação de lançá-lo hoje, compartilhando com o leitor a progressão desse verdadeiro parto cultural.
O nosso GEA (Grupo de Estudos do Amor) orgulha-se de ter colaborado com esse trabalho, facilitando aspectos da sua elaboração e da sua divulgação.
São 47 autores, incluindo os organizadores e colaboradores, todos atuando como verdadeiros educadores. Também pude apresentar o meu texto: “Amor, Ética e Moral”, aproveitando as noções mais recentes sobre a ética em comparação ao determinismo objetivo da moral e à subjetividade inspirada do amor.
Os pensamentos de André Comte-Sponville, filósofo e escritor francês da atualidade, nortearam o eixo do meu comentário. Em uma entrevista sobre os enfoques filosóficos de amor e ética, Sponville diz: “Só precisamos de moral por falta de amor. O amor bastaria: ‘Ama e faz o que quiseres’, dizia santo Agostinho. Sim, mas o amor, quase sempre, não está presente; é por isso que precisamos de moral, porque amamos demasiado pouco ou demasiado mal”.
"A ética implica desejos, a moral envolve deveres.
Seguindo a moral,
cabe perguntar: “Como devo me comportar, como agir?”.
Seguindo a ética, a pergunta seria:
“Qual é a minha escolha, o que quero viver?”.
Explorando a sentença de Santo Agostinho, caberia refletir: quem ama, pode seguir os seus desejos. Parece algo inconsequente, leviano. Mas aí é que entra uma diferença essencial entre moral e ética para ser compreendida exemplarmente. A ética implica desejos, a moral envolve deveres. Seguindo a moral, cabe perguntar: “Como devo me comportar, como agir?”. Seguindo a ética, a pergunta seria: “Qual é a minha escolha, o que quero viver?”.
A distinção é basilar e decisiva, pois as escolhas de quem ama são sempre orientadas pela ética. Mesmo que imaginasse atender a um desejo mais pessoal, talvez egoísta, o sujeito amoroso não prejudicaria o objeto. Vejamos o exemplo do rapaz que deseja sexo e não quer se envolver afetivamente com a moça. Ele a convida indicando qual é a sua proposta, com sinceridade, sem enganá-la ou iludí-la. Ela pode aceitar ou não, também com critério ético: assume que também deseja o sexo, sabe que anseia pelo vínculo, mas não fará um jogo duplo, concordando antes e inventando chantagens depois.
Por outro lado, quem não ama não dispõe da índole ética. É necessário recorrer à moral. Readaptando o exemplo, o rapaz não tem a inspiração de comunicar seu desejo de sexo casual, então seguirá algum padrão moral: oferecerá um vínculo de fachada ou reprimirá seu desejo. A moça cobrará o compromisso ou também negará o próprio desejo.
_______________________________________
* Joaquim Zailton Bueno Motta é psiquiatra e sexólogo.
Fonte: Correio Popular online, 16/10/2010
Nenhum comentário:
Postar um comentário