CLÁUDIA LAITANO*
Imagem da Internet
Na véspera do Dia dos Professores, um dos mais ilustres representantes da categoria falou em Porto Alegre sobre o crescente desprestígio da docência em escolas do mundo todo. Mario Vargas Llosa, o celebrado Prêmio Nobel de Literatura 2010, ficou conhecido internacionalmente como escritor, flertou com a política no início dos anos 90, mas é na sala de aula que passa boa parte do seu tempo nos dias de hoje. Convidado do programa de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Princeton, em Nova Jersey, Estados Unidos, Llosa está lecionando neste semestre aulas de escrita criativa e um curso sobre o escritor argentino Jorge Luis Borges. “Sou basicamente um escritor, não um professor, mas gosto de ensinar por causa dos estudantes e pela chance de falar a eles sobre a boa literatura”, diz o Nobel.
No site da universidade, estão postadas algumas fotos das aulas de Llosa em Princeton. Vemos um grupo de alunos hipnotizados pelo mestre a sua frente – rapazes e moças muito jovens e aparentemente bastante conscientes do privilégio que é ter aulas com um dos maiores autores contemporâneos em atividade. Não há celulares ou notebooks à vista, apenas cadernos comuns, canetas e uma visível “presença presente”, se é que vocês me entendem.
Há algo naquela sala de aula em todos os sentidos excepcional (uma universidade de excelência em um país do Primeiro Mundo, com recursos humanos e físicos que parecem, para a maioria de nós, tão distantes e inatingíveis quanto a sala de estar de Zeus e Hera no Olimpo) que poderia, em tese, existir em qualquer classe de qualquer parte do mundo – até mesmo naquelas salas de aula improvisadas em barracas, contêineres ou sob a sombra de uma árvore. Uma fórmula quase infalível, mas cada vez mais rara em escolas públicas e privadas, com crianças pequenas ou jovens adultos: o encontro de um professor preparado e motivado com alunos que respeitam e valorizam a autoridade do mestre em sala de aula.
Em sua conferência no seminário Fronteiras do Pensamento, na noite de quinta-feira, Llosa falou sobre um dos “efeitos colaterais” do Maio de 68, o movimento do “é proibido proibir”, que inventou boa parte da ideia de jovem que temos hoje, em escolas do mundo todo: a perda de prestígio do docente e da docência e, em última instância, da própria noção de autoridade. Não necessariamente a autoridade no sentido de poder e opressão, mas de prestígio e crédito que se reconhece em uma pessoa ou instituição por sua legitimidade, qualidade e competência em alguma matéria.
Em outras palavras: jogaram fora a criança junto com a água do banho. E essas crianças, infelizmente, são nossos próprios filhos.
_______________________________________________* Nasceu em Porto Alegre em 1966. Jornalista com especialização em Economia da Cultura, desde 2000 é editora da área cultural do jornal Zero Hora, de Porto Alegre, no qual, a partir de 2004, passou a publicar crônicas semanais.
Fonte: ZH online, 16/10/2010
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