Futebol e política

RITA SIZA*

Imagem da Internet

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Nunca é bom quando o que está em jogo no relvado é mais do que uma bola.

 É preciso atenção

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A CIDADE DE GÉNOVA, na Itália, foi o palco da última demonstração de ódio, violência, intolerância e extremismo que o futebol tantas vezes esconde e alimenta. Foi um espetáculo assustador, deprimente e perigoso, e que forçou o árbitro a cancelar o jogo de qualificação para o Euro-2012 entre Itália e Sérvia, apenas sete minutos depois do pontapé de saída.

Antes de entrar no estádio, os adeptos sérvios já tinham lançado a confusão e revelado a sua capacidade destruidora um pouco por toda a cidade -como haviam feito, dois dias antes em Belgrado, a capital do seu país, ao tentarem impedir a realização de uma marcha de "Orgulho Gay". A polícia de intervenção, forçada a reagir às investidas dos militantes com gás lacrimogéneo, identificou os insurretos como membros das claques dos clubes de futebol, infiltradas por ultranacionalistas e neonazis.

"Líderes populistas são peritos

em explorar as emoções genuínas

que o esporte provoca e manipulá-las

ao serviço de causas que

de outra forma

não reuniriam apoio."

Para muitos adeptos pelo mundo fora, o futebol é bem mais do que um esporte. Ele pode ser uma forma de sublimação das pequenas frustrações quotidianas -numa atitude inofensiva- ou então um meio de justificar actos intoleráveis. É esse o problema quando a política se intromete.

Líderes populistas são peritos em explorar as emoções genuínas que o esporte provoca e manipulá-las ao serviço de causas que de outra forma não reuniriam apoio. Não podemos esquecer que foi o "hooliganismo" das claques do Estrela Vermelha de Belgrado e do Dínamo de Zagreb que alimentou o conflito sectário e étnico que despoletou a guerra da Bósnia.

No seu excelente livro "How Soccer Explains the World" (Como o Futebol Explica o Mundo: Uma Teoria Improvável da Globalização), o jornalista norte-americano Franklin Foer argumenta, recorrendo ao exemplo do futebol, que em vez de destruir as culturas locais, como se receava, o fenómeno da globalização fez renascer (ou aprofundar) o tribalismo das sociedades, expondo e promovendo os seus piores instintos -terrorismo, antissemitismo, fanatismo...

Em Génova, foi o que se viu. Os jovens sérvios queimaram bandeiras da Albânia, aos gritos de "Morte aos Shiptar" -termo pejorativo que identifica os albaneses. Suas razões eram claramente políticas: a revolta não tinha nada a ver com golos, mas sim com a declaração de independência da Província do Kosovo, que Belgrado nunca reconheceu.

Nunca é bom quando o que está em jogo no relvado é mais do que uma bola. Como alertou e bem o antigo internacional Savo Milosevic, um dos maiores craques da Sérvia: "Estamos novamente perante pessoas que não hesitam em usar o futebol para atingir outros objectivos". Precisamos ficar atentos.

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*Articulista da Folha

Fonte: Folha online, 16/10/2010