Imagem da Internet
Estreia do novo show de Fito Páez em Porto Alegre: turnê Confiá. O fato é que Fito está em uma de suas fases mais elétricas. Confiá, lançado em março, assinala a volta do cantor e compositor de 47 anos à sonoridade do rock, depois de álbuns mais intimistas, como Rodolfo (2007) e No Sé si Es Baires o Madrid (2008) – este, contemplado com o Grammy Latino de Melhor Álbum Vocal Pop em 2009.
Por e-mail, o argentino comentou o processo de criação do novo álbum, e também falou sobre cinema, tecnologia e política. Confira trechos:
Zero Hora – Você esteve em Porto Alegre em 2008 para cantar com Paralamas e Titãs e depois com a versão elétrica do disco Rodolfo (2007). Pode-se dizer que o disco Confiá é uma continuação de algo que começou durante aquela turnê?
Fito Páez – Sem dúvida os discos continuam o que o álbum anterior trazia. Este (Confiá) é um disco que foi gravado de uma maneira totalmente diferente dos outros, e daí também vem o nome “confiá”. Chegamos a um hotel na montanha com nossas famílias, preparamos o estúdio para gravar e foi só ali que comecei a buscar as canções... Foi como jogar-se na piscina confiando que havia água... E assim foi! Apareceram as músicas e as letras e gravamos o disco assim.
ZH – Você explicou que a intenção, nesse processo, era fazer canções “mais espontâneas”. Como foi criar no estúdio? Você gostou dessa experiência?
Fito – Gostei, me diverti muito e confirmei que é preciso confiar na música, é disso que trata a viagem.
"Gosto de olhar adiante e
preciso pensar que o mundo
se democratizou tecnologicamente
e isso gerou milhões
de subjetividades."
ZH – Seu filme De Quién Es el Portaligas? (comédia lançada em 2007, em que Fito divide a direção com María Cecilia López) foi um sucesso. Você tem mais planos no cinema? O que foi mais difícil – realizar o filme ou criar e produzir seus discos?
Fito – Tenho muita vontade de fazer um filme, e acho que no ano que vem poderemos começar o projeto. Se o cinema é mais difícil? Não acho que seja mais difícil, mas é algo muito diferente filmar com uma grande equipe, decidir o roteiro, escolher as locações, os atores e os enquadramentos, ver como contamos o que queremos contar. São decisões diferentes daquelas envolvidas em gravar um disco, ensaiar as músicas, sair em turnê, fazer os shows, viajar por meses...
ZH – Em uma entrevista recente, você declarou que “o mundo se democratizou tecnologicamente e isso criou milhões de subjetividades”. Você acredita que a música feita hoje pelos novos artistas é influenciada por isso? Como fazer música para tocar as pessoas em meio a tanta informação disponível? É algo intimidador para o artista?
Fito – Gosto de olhar adiante e preciso pensar que o mundo se democratizou tecnologicamente e isso gerou milhões de subjetividades.
O que acontece hoje é só uma expressão de tudo isso. Não posso dizer que isso seja ruim... Mas é raro que algo novo da música popular nos surpreenda, não é? Sinto que está em andamento uma grande transformação, sobre a qual não vejo haver grandes reflexões. Não faço música de uma maneira fria e profissional, mas me envolvo em tudo o que faço porque me interessa estar vinculado à música todos os dias.
ZH – Na canção Fuera de Control, você diz que “o tango argentino moderno não se pode escutar”. Qual é a sua impressão sobre as experiências musicais de grupos como Gotan Project e Bajofondo – que estão ganhando cada vez mais popularidade no Brasil?
Fito – Não me interessam muito.
ZH – No Brasil, o governo tende a vencer mais uma eleição. Qual a sua impressão sobre os caminhos políticos de Argentina, Brasil e países vizinhos?
Fito – Não gosto de fazer análises levianas e ligeiras da situação de um país – inclusive me parece uma falta de respeito quando alguém chega à Argentina e se põe a falar de como estamos, como vivemos e como pensamos nós argentinos. O que posso dizer é que vejo muito bem o Brasil – como creio que o resto da América Latina também o veja. Há algo muito forte acontecendo nesse país e isso é positivo para os demais países da América. Na Argentina há grandes avanços e estão caindo muitas máscaras relacionadas com os meios de comunicação e o poder que eles exerciam sobre o povo. Tenho a sensação de que está se acabando um modelo de poder neste sentido – e falo do que está acontecendo com a imprensa escrita, com o governo e com o povo, entre outras coisas, é claro.
_________________________
Reportagem por LUÍS BISSIGO
Fonte: ZH online, 13/10/2010
Nenhum comentário:
Postar um comentário