Juremir Machado da Silva*
Crédito: ARTE PEDRO LOBO
Tive uma longa conversa telefônica com meu amigo Telmo Flor, diretor de Redação do Correio do Povo. Falamos sobre marketing, política, aborto, Marina Silva e segundo turno da campanha à Presidência da República. O Brasil, hoje, enfrenta duas pragas: os marqueteiros políticos e os institutos de pesquisa. O Ibope quebrou a cara até na boca de urna nacional. O resultado ficou fora da margem de erro. Um fiasco. O DataFolha me lembrou Guma, o oráculo de Palomas, que só prevê o previsível: anunciou a possibilidade de segundo turno nacional com 93% dos votos apurados. Aí, até eu! Pesquisa no Brasil anda sempre no limite da empulhação. Mais fácil crer que o Tiririca sabe ler e será um extraordinário deputado.
Os marqueteiros políticos são ainda mais empulhadores. Pompeo de Mattos, vice na chapa de José Fogaça, morreu atirando. Disse que os marqueteiros não os ouviram e detonaram a campanha. Marqueteiro serve para duas coisas: tomar dinheiro de político e despolitizar eleições. Graças a eles, dois políticos com biografia progressista, Dilma e Serra, viraram conservadores e só faltam defender a criação de um Ministério de Costumes para meter na cadeia mulheres que fazem aborto. Tucanos e petistas adotaram o discurso do Partido Republicano dos Estados Unidos. No passado, um político de respeito deveria ser capaz de persuadir o eleitor a mudar de ideia. A campanha servia para isso. Agora, por obra dos marqueteiros, não é o eleitor que deve mudar, mas o político. Cabe-lhe corresponder aos preconceitos sociais.
"Esta campanha poderia ser chamada
simplesmente de "avatar".
Temos Dilma e Serra em versão pós-marqueteiros.
Nada do que dizem é espontâneo.
Não passam de produtos com nova embalagem."
Os marqueteiros buscam desesperadamente desideologizar os candidatos. Combatem com todas as forças a discussão de ideias. Eliminam aspectos programáticos dos debates. Em breve, transformarão o horário eleitoral em propaganda de cerveja. O marqueteiro é uma subespécie do pior publicitário. Tudo para ele deve ser leve, fácil, divertido e pitoresco. O contrário disso parece-lhe chato, ranzinza e ineficaz. O marqueteiro julga o mundo inteiro pelos seus gostos duvidosos. A literatura brasileira é ruim por uma razão bem simples: a maioria dos escritores destacados saiu da publicidade. Praticam uma estética do vazio com pompa. É o efeito de embalagem. Depois de algum tempo, o embalado desaparece. Fica apenas o invólucro. Efeito televisão. Puro cenário.
Esta campanha poderia ser chamada simplesmente de "avatar". Temos Dilma e Serra em versão pós-marqueteiros. Nada do que dizem é espontâneo. Não passam de produtos com nova embalagem. O marqueteiro só tem um dogma: adular o consumidor. Para os marqueteiros, eleitores são consumidores que devem ser acariciados e jamais contrariados. Não se deve provocá-los nem desafiá-los. Cabe identificar o que eles pensam e modular o discurso, ou mudar de posição, para satisfazê-los. Dilma e Serra são casos de escola. Todo mundo sabe que são a favor do aborto. Mas os marqueteiros os convenceram a mentir para adular eleitores do Dem. Não estamos nos Estados Unidos. Só respeito político que dá calote em marqueteiro.
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* Filósofo. Escritor. Articulista do Correio do Povo
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