A Irlanda é que era. Impostos baixos, desregulação laboral, exposição sem limites aos riscos externos, a receita mais do que perfeita. Devíamos seguir-lhe o exemplo porque os factos não enganavam. Aquilo é que era uma maravilha.
Depois dos factos se virarem contra os adoradores da Irlanda, eles não desarmaram. Sim, digam o que quiserem. Ainda estaremos nós a penar a Irlanda correrá saltitante e fora da crise. Vão ver! Só que a Irlanda, teimosa, não ficou melhor. Ficou pior.
Mas uma fé é uma fé e nada a pode contrariar. A Irlanda continuou a ser um exemplo. Porque tomou antes de todos os outros as medidas que se exigiam. Ah, se Portugal tivesse feito o mesmo em vez de andar a perder tempo. Cortar a direito e sem contemplações. Aquilo sim, é ter coragem. Aquilo sim, vai correr bem.
Mas a Irlanda, que não sabe nada de economia, armou-se em parva e a sangria que começou antes dos outros acelerou ainda mais a desgraça. Só que nada demove quem se guia pelo dogma. E se os factos desmentem uma boa ideia, os factos estão errados.
Não julguem que a Irlanda agora se vê obrigada a receber o socorro que não queria para salvar as suas contas públicas. A Europa, que é como aquele escuteiro que para fazer uma boa acção obriga a velhinha contrariada a atravessar a rua, exige que a Irlanda aceite o apoio para continuar a salvar os bancos que a enterraram. Não é seguramente para resolver os problemas com a sua dívida, já que só em Abril do ano que vem precisava de ir aos mercados.
A coisa mais extraordinária de toda esta história é que são os mesmos que defenderam a desregulação do sistema financeiro, que defenderam o desastroso modelo irlandês como exemplo e que defendem as políticas de austeridade que estão a matar as economias europeias que são ouvidos como conselheiros das Nações. Os cangalheiros fazem-se passar por médicos. E o engodo funciona.
_________________Fonte: http://arrastao.org/ 18/11/2010
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