RICHARD WARSON – Entrevista
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Ele é o guru de algumas das maiores companhias do planeta. IBM, Coca-Cola, McDonald’s, Nestlé, Samsung e Procter @ Gamble já o contrataram para dar conselhos sobre o que fazer hoje para evitar arrependimentos amanhã. Mas o futurólogo inglês Richard WATONS não vê um futuro promissor, de qualquer maneira. Em seu novo livro, Future Minds (Mentes do Futuro, sem edição no Brasil), esse cientista político alerta para o perigo de caminharmos em direção a uma sociedade onde as pessoas não conseguirão sequer pensar sozinhas.
Você já escreveu sobre o futuro dos arquivos, do dinheiro, das viagens e, agora, das mentes. Como é possível?
Richard Watson: Só dá para planejar cenários olhando para todas essas coisas ao mesmo tempo. Se você trabalha num banco, tende a ler publicações sobre o mercado financeiro ou economia, mas não sobre tecnologia e demografia. As pessoas leem cada vez mais sobre cada vez menos assuntos, mas é onde todos os assuntos se unem que podemos identificar tendências. Por isso, passo 80% do meu tempo acordado lendo.
"Estudo feito há 10 anos mostrou
que 10% dos americanos diziam
não ter amigos para conversar em profundidade
sobre o que sentem.
Hoje, esse número subiu para 25%."
O que vai acontecer com nossas mentes?
Watson: Há muitos falando sobre os aspectos bons dos celulares e do Google, mas há um outro lado. Passamos os dias andando pela cidade e olhando para uma tela de iPod ou BlackBerry e prestamos menos atenção nas pessoas ao redor. Estamos construindo bolhas onde nunca somos confrontados com ideias divergentes: selecionamos só as informações e os amigos que mais nos agradam. Isso não é bom para o pensamento e para a sociedade.
Estamos ficando mais rasos?
Watson: Não só mais rasos, mas mais estreitos. Os cientistas citam cada vez menos trabalhos e estamos todos olhando para as mesmas fontes. Isso tem de ter algum impacto na originalidade.
Há o perigo de se criar uma sociedade fascista, sem diversidade?
Watson: Podemos estar criando uma geração que não poderá pensar por si própria. Eles têm de ficar online e ver o que o resto das pessoas pensam antes de responderem a uma questão. Sentimos que não precisamos mais aprender porque é muito fácil achar os dados. Mas ter só o lado prático do conhecimento significa não enxergar o contexto em que as informações surgem, o que é preocupante.
Isso é um pouco parecido com as máquinas. Estamos perdendo a humanidade?
Watson: Sim. O digital cria um nível de conectividade, mas destrói outros. Estudo feito há 10 anos mostrou que 10% dos americanos diziam não ter amigos para conversar em profundidade sobre o que sentem. Hoje, esse número subiu para 25%.
Você propõe no livro que se pense mais devagar. Como é possível numa sociedade que pede cada vez mais produtividade?
Watson: Quando dizemos que alguém é devagar, isso é associado à burrice. Concordo que a maioria dos governos e empresas pensam que, se trabalharmos mais devagar, isso terá efeito negativo na eficiência, mas é discutível. Estamos muito ocupados em nossos escritórios fazendo coisas que serão descartadas depois. Quando um funcionário para um pouco para pensar, vê o seu papel dentro dos negócios, identifica possíveis erros e evita que aconteçam. Quando se está indo muito rápido, o máximo que se faz é reagir.
Você parece pessimista sobre o futuro...
Watson: Meu temor é que não tenhamos escolha senão nos tornamos 100% digitais. E que a gente perca a capacidade de pensar profundamente, uma das coisas que nos define como humanos.
ALGUMAS PREVISÕES DO GURU
- Os computadores vão passar a entender as emoções de seus usuários e agir cada vez mais como humanos. Mas as pessoas se tornarão mais parecidas com as máquinas e haverá o desenvolvimento de vício em cibersexo e cibercasamento (entre homens e computadores).
- O excesso de informações fará com que as pessoas comecem a racionar o consumo de dados e haverá dietas digitais e profissionais contratados para peneirar o conteúdo. A confiança nas fontes de dados se tornará um dos grandes problemas da humanidade.
- O movimento de slow thinking (pensamento devagar) irá surgir paralelamente ao movimento slow food, de leitura lenta e de culto às informações em papel. Algumas companhias vão passar a guardar seus documentos estratégicos apenas em papel para evitar ciberataque.
- O vício em internet vai fazer com que os governos criem órgãos específicos para lidar com o problema.
- Num futuro próximo, tempo e espaço se tornarão bens de luxo. Haverá resorts sem comunicação alguma e serão alugadas salas de silêncio para que as pessoas possam parar e pensar um pouco.
________________________________________________REPORTAGEM POR TIAGO MALI
Fonte: Revista GALILEU impressa, edição nº 231, dezembro 2010, pg.43
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