quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Ana Maria Matute vence Prémio Cervantes

Maior galardão da literatura espanhola
 atribuído a uma eterna candidata

"Sinto-me enormemente emocionada, contentíssima, enormemente feliz e contente porque me deram um prémio que me encanta." Foram estas as primeiras palavras de Ana Maria Matute, ontem, durante a conferência de imprensa que deu em Barcelona, sua cidade natal, após ter sido anunciada como vencedora da 35.ª edição do Prémio Cervantes 2010, galardão considerado como o Prémio Nobel da Literatura espanhola.
A escritora catalã confessou mesmo que quase não dormiu na noite anterior ao anúncio. Considerada uma das eternas candidatas ao prémio, revelou que "nos últimos dias, muitas pessoas me disseram que este ano seria a escolhida". Mas só acreditou que era a vencedora após o anúncio oficial pela ministra da Cultura, Ángelez González-Sinde.
"Tomo este prémio como um reconhecimento senão pela qualidade pelo menos pelo esforço, pela dedicação e a entrega total de uma vida", disse a escritora.
No entanto, não se pode dizer que tenha sido uma decisão fácil para o júri. Segundo comunicado do Ministério da Cultura espanhol, foram necessárias seis votações para que o júri chegasse a consenso.
Apesar dessa difícil decisão, muitas foram ontem as personalidades espanholas que aplaudiram a atribuição do galardão à "fada do bosque", como Ana Maria Matute já se definiu a si própria, numa alusão ao mundo narrativo por si criado na sua extensa carreira.
Amigo da escritora, Mario Vargas Llosa sublinhou a justiça da atribuição do prémio. Em declarações à RTVE, o Prémio Nobel da Literatura deste ano defendeu que a distinção só peca por tardia. "Ela possui uma das obras mais ricas da literatura contemporânea em língua espanhola", justificou o escritor peruano, também ele vencedor deste prémio em 1994.
Juan Marsé, distinguido com este galardão em 2008 e membro do júri, destacou o "surpreendente" encontro entre o realismo e o fantástico na obra de Matute.
O Prémio Cervantes reconhece o conjunto da obra de um escritor, é acompanhado de um prémio de 125 mil euros, e era o único galardão espanhol na área das letras que faltava à escritora.
Membro da Real Academia Espanhola, onde foi a terceira mulher a ser admitida desde a sua fundação (1713), Ana Maria Matute tornou-se também na terceira mulher a receber o Prémio Cervantes, depois da poetisa cubana Dulce Maria Loynaz (1992) e da ensaísta espanhola María Zambrano (1988). Considerada uma das mais importantes autoras espanholas do pós-Guerra Civil Espanhola, nas suas mais de 40 obras publicadas existem lugares povoados de unicórnios, duendes, quartos fechados e mundos inabitados. A infância, as injustiças sociais, os marginalizados, a Guerra Civil Espanhola (1936-39) e o pós-guerra são temas centrais da escritora que criou alguns dos clássicos da literatura espanhola, como Los Abel (1948) Los Soldados Lloram na Noite (1963) ou Olvidado Rey Gudú (1996), o seu livro preferido. Escreveu o primeiro livro aos 17 anos (Pequeño Teatro), apenas publicado em 1954, e que lhe valeu o Prémio Planeta nesse ano.
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Reportagem por por MARINA MARQUES

Fonte: Site português: http://dn.sapo.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=1719624&seccao=Livros

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