A morte no catolicismo: o cortejo fúnebre dos Habsburgos
Foto: Svetlana/Olaf Lange
Igreja dos Capuchinhos, VIena.
Existe uma tensão no interior do Cristianismo entre a simplicidade e a pompa e cerimónia nos ritos fúnebres. É uma tensão que nasce, certamente, de dois princípios fundamentais. Por um lado a humildade de cada fiel, seja Rei, Papa, ou plebeu, todos pecadores e todos unidos na inevitabilidade da morte; por outro, a crença na ressurreição da carne conduz facilmente a um cerimonial que o realce, dando importância ao cadáver que aí vai, dignificando-o e deixando um marco em sua memória, muitas vezes na forma de um sepulcro engalanado.
Poucas instituições terão lidado tão bem com esta tensão como a família imperial da Áustria, os Habsburgos. Ainda hoje os seus membros são enterrados na Cripta Imperial da Igreja dos Capuchinhos, em Viena. O cortejo fúnebre é da complexidade e riqueza que se esperaria de uma família coroada, mas à chegada à Igreja, o tom muda.
Interior da Igreja dos Capuchinhos - Viena
Encontrando as portas fechadas um dos presentes pede que estas sejam abertas. De dentro um capuchinho pergunta quem vem lá. O mesmo elemento do cortejo fúnebre elenca então todos os nomes e títulos do falecido. Do lado de dentro a voz sentencia, “Não conheço”.
A cerimónia repete-se, sendo que da segunda vez a lista dos títulos é encurtada, mencionando-se apenas os mais importantes, a resposta é a mesma.
À terceira vez que o monge pergunta quem vem lá a resposta é curta e incisiva. O nome do falecido seguido dos únicos títulos que interessam naquela circunstância: “nosso irmão e um pecador como nós”.
Só então se abrem as portas, e o magnífico cortejo pode aceder à cripta onde o caixão será deixado.
Cripta imperial
__________________________Reportagem por Filipe d'Avillez
Fonte: http://www.snpcultura.org - 24/11/2010
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