Dad Squarisi
Em tempos de panetones, mensalões, descrença nas instituições, um nome ganha destaque. É Chico Xavier. No centenário de nascimento, o médium mineiro se torna protagonista de livros, filmes e documentários. Mereceu a capa da revista Época da semana. Trata-se de modismo? A história diz que não. Ele tinha 5 anos. Até então, a vida corria normal. Aí, aconteceu. A mãe desencarnou. O pai distribuiu a filharada entre os parentes. Chico parou na casa da madrinha. Lá, começou a ter visões e a receber mensagens dos espíritos. Explicar a paranormalidade? Não conseguia. Apanhava todos os dias por manter contato com as almas do outro mundo.
Tempos depois, o pai casou-se outra vez. Primeira providência: reunir a família dispersa. Juntos, costumavam passear pelas ruas da interiorana Pedro Leopoldo. Nas idas e vindas, ele descobriu a diferença entre mãe e madrasta: “A mãe anda a nosso lado. Dá-nos a mão. A madrasta vai na frente”. Ao longo da vida, Chico caminhou ao lado dos semelhantes. Estendeu-lhes a mão. Consolou os aflitos. Socorreu os carentes. Seguiu, sem recuos, a lição de Jesus: ama ao próximo como a ti mesmo. Praticou o lema do espiritismo: fora da caridade não há salvação.
Manteve a porta sempre aberta. Por ela passaram mães desesperadas. Glória Perez andou por lá. Buscava consolo para a tragédia que lhe roubara a única filha. Mulheres sofredoras chegavam a qualquer hora. Maria, Luíza, Joana, todas eram acolhidas com imenso amor. Pais desempregados, sem saber como matar a fome dos filhos, voltavam com pão, leite, arroz, feijão. Viciados, bêbados, prostitutas encontravam abrigo e consolo.
O mundo artístico e político conhecia o endereço. Roberto Carlos foi atrás da resposta para a perda da mulher amada. Mário Covas e dona Lila receberam mensagem da filha que partiu na frente. JK não arredava pé de Uberaba. Itamar Franco condecorou o médium com a Medalha da Inconfidência. Augusto César Vannucci inspirou-se em psicografia de Chico e Divaldo Franco para encenar a peça Além da Vida. A todos Chico tratava como irmãos. Sem vassalagem ou privilégios.
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Fonte: Correio Braziliense online, 04/04/2010
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