Voltaire Schilling*
“Lembre-se, a discórdia é patriótica.”
Slogan do Tea Party – Nashville, 2009
Fotos da Internet**
As fotos do Museu Getty não deixam dúvida, o linchamento de negros era um acontecimento festivo nos Estados Unidos dos anos 20 e 30. Uma delas, tirada em Indiana em agosto de 1930, mostra uns 50 caipiras brancos, inclusive com algumas mulheres e crianças, admirando os corpos queimados e estirados de dois pobres homens vestidos miseravelmente.
Faziam até cartões-postais disso para remeter aos parentes distantes. Em outras localidades, anunciavam o enforcamento pelo jornal para atrair curiosos da vizinhança que vinham de trem para, irmanados, participar do horror.
Naquela mesma década, essa mesma gente fez de tudo para impedir a política de Franklin D. Roosevelt para tirar o país da Depressão, denunciando as ações redentoras do Novo Trato como “intervencionistas” e “comunistas”.
Entre os anos 40 e 50 do século passado, empenharam-se em insuflar a Guerra Fria, para que o Estado gastasse bilhões em armas nucleares dando especial apoio ao Dr. Edward Teller na construção da bomba final que pulverizaria parte da humanidade. Ao mesmo tempo, covardes, alinhados ao senador Joseph McCarthy na caça às feiticeiras, perseguiram funcionários públicos e artistas de Hollywood colocando-os em “listas negras” para que não pudessem mais atuar. Praticamente empurraram o grande Charles Chaplin para o exílio.
Nesse tempo todo, apoiaram o que havia de pior na América Latina. Fossem tiranos como Trujillo, Somoza ou Batista, nunca lhes regatearam dólares, quando não lhes treinavam as polícias. Foram os maiores entusiastas da longa intervenção armada no Vietnã (1965-1975), mesmo que custasse a vida de mais de 1 milhão de paupérrimos camponeses e que arrasassem as florestas deles com terríveis herbicidas como o “agente laranja”. Lamentaram foi a derrota e não o estrago que causaram, e não sossegaram enquanto um deles não atirou no atrevido Dr. Martin Luther King.
"O negro supliciado dos anos 20 passou a ser
substituído pelo árabe-iraquiano encapuzado,
pendurado por cordas e
torturado em Abu Ghraib..."
E, passados uns tantos anos, voltaram à cena apoiando em massa o presidente George Bush na sua “guerra ao terror”, invadindo dois países miseráveis do Oriente e matando a população a granel na maior operação colonialista dos tempos recentes.
O negro supliciado dos anos 20 passou a ser substituído pelo árabe-iraquiano encapuzado, pendurado por cordas e torturado em Abu Ghraib, ou pelo desgraçado afegão ou paquistanês fronteiriço dilacerado por bombas jogadas regularmente lá do alto pelos drones, os aviões teleguiados.
Essa gente cruel não suportou nem o pouco refresco que o presidente Barack Obama trouxe à nação. Logo tratou de se reorganizar em torno do movimento Tea Party (uma ofensa aos revolucionários de Boston da época da Independência) para que o jovem líder suspenda ou mutile as reformas que objetivam dar melhor assistência aos pobres.
Ainda que conscientes de viverem no país mais rico e poderoso da terra, egoístas mórbidos querem fazer reverter o programa que proporciona aos 30 ou 40 milhões de carentes o acesso à mais eficaz medicina do mundo. Não conseguiram suportar sequer dois anos de convívio com políticas públicas de bondade e generosidade. E ainda assim todos se confessam cristãos!
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*Historiador
**1919 – Linchamento em Omaha, Nebraska, EUAFonte: ZH online, 11/11/2010
Afro-americano a ser queimado após sofrer mutilações, por uma comissão de linchamento, que executou justiça por mãos próprias. O homem foi acusado de assalto a uma rapariga branca. Nos EUA, entre 1882 e 1951, foram registados 4,720 linchamentos populares. Três quartos dessas vítimas foram indivíduos afro-americanos.
Brown Brothers, Sterling, PA
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