"Na medida em que desejamos o que nos falta, é impossível sermos felizes. Por que? Porque o desejo é falta, e porque a falta é um sofrimento. Como você pode querer ser feliz se lhe falta, precisamente, aquilo que você deseja? No fundo, o que é se feliz? Evoquei a resposta que encontramos em Platão, Epicuro, Kant, em qualquer um: ser feliz é ter o que se deseja. Não necessariamente tudo o que se deseja, porque nesse caso é fácil compreender que nunca seremos felizes e que a felicidade, como diz kant, seria um ideal não da razão mas da imanginação. Ser feliz não é ter tudo o que se deseja, mas pelo menos uma boa parte, talvez a maior parte, do que se deseja. Seja. mas, se o desejo é falta, só desejamos, por definição, o que não temos. Ora, se só desejamos o que não temos, nunca temos o que desejamos, longo nunca somos felizes. Não que o desejo nunca seja satisfeito, a vida não é tão dificil assim. Mas é que, assim que um desejo é satisfeito, já não falta, logo já não há desejo. Assim que um desejo é satisfeito, ele se abole como desejo: "O prazer", escreverá Sartre, "é a morte e o fracasso do desejo". E longe de ter o que desejamos, temos então o que desejávamos e já não desejamos" . (COMTE-SPONVILLE, André. A felicidade, desesperadamente. Martins Fontes, SP, 2005, pgs. 26-28)
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