Bolívar Torres
Quando escreveu o romance A cabana, uma reflexão sobre como lidar com a fé e a perda dos entes queridos, o professor de religião canadense William P. Young não tinha a menor intenção de se tornar best-seller. O que era para ser apenas um presente para a mulher e as crianças se transformou num dos maiores fenômenos editoriais dos Estados Unidos. Publicado no fim de 2007 sem campanha de marketing, numa edição para amigos limitada a 15 cópias, o livro se beneficiou de um inesperado boca-a-boca. Em junho deste ano, já aparecia na lista do New York Times, com quase 2 milhões de exemplares vendidos.
– Foi uma coisa de Deus – diz Young ao Jornal do Brasil, que já está negociando uma adaptação cinematográfica da história. – Ninguém esperava. Quando escrevi, tudo que queria era desabafar.
Culpa e tristeza
O livro conta a história de Mack, um homem cuja filha é brutalmente assassinada numa cabana. Depois de quatro anos de culpa e tristeza, o pai recebe um bilhete assinado por Deus, convidando-o a voltar ao lugar onde aconteceu a tragédia. Sua ida se transforma numa jornada espiritual que mudará todas as suas percepções sobre a vida.
Para Young, a "cabana" em questão é uma metáfora. Trata-se do lugar onde nos machucamos e ficamos presos e onde precisamos lidar com nossa raiva e angústia.
– Eu sou Mack – confessa. – Estava com 50 anos e quis analisar a minha vida. Tinha levado 38 anos para voltar à minha "cabana". Queria fazer para minhas filhas e mulher um resumo das minhas várias idéias sobre a vida.
Por causa de sua visão peculiar sobre a fé, o livro levantou algumas polêmicas nos Estados Unidos. Além de criticar alguns aspectos do cristianismo, retrata Deus como uma figura feminina e mostra Jesus de uma maneira familiar. Em um capítulo, o protagonista chega a fazer um alegre piquenique com o Messias, empanturrando-se de guloseimas. Tanto Deus quanto jesus batem papo naturalmente com Mack, dizendo coisas como "Não preciso castigar as pessoas pelos pecados. O pecado é o próprio castigo, pois devora as pessoas por dentro". Ou então: "O humano, formado a partir da união material e física, pode ser habitado pela vida espiritual, a minha vida".
Educação religiosa
Nascido em Nova Guiné, filho de pai missionários, Young recebeu uma educação religiosa, mas acabou tendo conflitos com a fé durante boa parte da vida. Hoje, não pertence mais a uma corrente religiosa específica.
– Esse não é um romance cristão – afirma o escritor. – A instituição cristã não trabalha para aqueles que estão machucados. Infelizmente, temos uma teologia que mostra Deus como uma força que nem sempre está ao nosso lado, às vezes irritado com a gente.
Para o autor, quando nos sentimos desesperados, não costumamos ir na direção de Deus, não o vemos como Pai.
– Existe uma separação e quis acabar com ela. Queria mostrar: Deus não é assim e está do nosso lado.
(http://ee.jb.com.br/reader/clipatexto.asp?pg=jornaldobrasil_117579/97609# 07/11/2008)
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