A arte de perder não tarda aprender;
tantas coisas parecem feitas com o molde
da perda que o perdê-las não traz desastre.
Perca algo a cada dia. Aceita o susto de perder chaves,
e a hora passada embalde.
A arte de perder não tarda aprender.
Pratica perder mais rápido mil coisas mais:
lugares, nomes, onde pensaste de férias ir.
Nenhuma perda trará desastre.
Perdi o relógio de minha mãe.
A última, ou a penúltima, de minhas coisas queridas foi-se.
Não tarda aprender, a arte de perder.
Perdi duas cidades, eram deliciosas.
E, pior, alguns reinos que tive, dois rios, um continente.
Sinto sua falta, nenhum desastre.
— Mesmo perder-te a ti (a voz que ria, um ente amado), mentir não posso.
É evidente: a arte de perder muito não tarda aprender,
embora a perda — escreva tudo! — lembre desastre.
(ELIZABETH BISHOP - 1911-1979 - Poetisa dos EUA. Considerada uma das mais importante poetisa do século XX.Tradução: Horário Costa - JB online, 13/11/2008)
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