Jonathan Zittrain
A liberdade da rede corre risco.
A culpa é dos novos
controles de empresas como a Apple, diz estudioso
Peter Moon
No livro O Futuro da Internet e Como Evitá-Lo, o americano Jonathan Zittrain, especialista em Direito na Internet, faz um alerta sobre a encruzilhada que a rede mundial de computadores e a indústria de tecnologia têm à frente. O espírito original, aberto à colaboração, que fez da internet o sucesso que é, também é a fonte de seus problemas: avalanche de vírus, programas defeituosos e falhas de segurança. “A internet está em crise”, diz Zittrain, de 39 anos. Novos aparelhos de enorme sucesso como o iPhone contornam esse risco, pois só aceitam programas que passam pelo crivo da Apple. Caso esse controle sobre o que pode ou não ser instalado no iPhone se alastre pela indústria, diz Zittrain, será o fim da inovação – e a internet do futuro será estéril.
QUEM ÉJonathan Zittrain é professor de Direito na Internet na Faculdade de Direito de Harvard O QUE FEZ Foi professor de Governança e Regulamentação na Internet, na Universidade de Oxford O QUE PUBLICOU The Future of the Internet and How to Stop It (2008; inédito no Brasil)
ÉPOCA – O que está errado na internet?
Jonathan Zittrain – Ela foi projetada numa outra época e para um propósito diferente daquele a que serve hoje. A internet era uma experiência de laboratório. Uma razão por que ela tomou conta do mundo é ter sido tão bem projetada, permitindo a participação de qualquer um em qualquer lugar. Ela funcionou otimamente por anos. Mas a popularização da internet e do computador pessoal revela agora seu lado ruim. A internet está em crise. O exemplo mais visível são os vírus de computador. Eles só existem porque o projeto original da rede permite. Precisamos dar um jeito nisso. Se não o fizermos, veremos as pessoas fugir para aparelhos que limitarão muito a inovação na rede, como o iPhone, da Apple, ou o Xbox, o console de games da Microsoft. O iPhone pode matar a internet.
ÉPOCA – Por quê?
Zittrain – A Apple é um ótimo exemplo de todas as fases desse fenômeno. O Apple II (1977) foi o primeiro PC produzido em série, que permitiu às pessoas terem um computador em casa rodando programas feitos por qualquer um. Em 2007, com o lançamento do iPhone, aconteceu o oposto. Ele era um sistema completamente fechado. A Apple controlava tudo o que rodava nele. Então, em 2008, foi a vez do novo iPhone. É um sistema aberto, que aceita programas de terceiros – mas só com a aprovação da Apple. A empresa checa cada parte do programa antes de permitir sua instalação no celular. Esse controle de qualidade fornece à Apple poder demais.
ÉPOCA – A rede aberta incluiu 2 bilhões de pessoas na era digital. Qual seria a conseqüência de um sistema fechado?
Zittrain – As novas tecnologias teriam uma qualidade imperial. Seriam feitas num país e usadas nos outros. Não haveria espaço para a inovação. No momento em que, pela primeira vez, vemos uma parcela considerável da humanidade na internet, é importante permitir que a tecnologia possa ser remodelada por seus usuários, em vez de ter um celular com quatro funções, controlado pela operadora. Os fabricantes de celular deixariam de competir para lançar produtos mais interessantes. Não é o que quero ver. Manter a tecnologia aberta é crucial para evitar esse futuro.
ÉPOCA – A enciclopédia virtual colaborativa Wikipédia consegue dosar o espírito da rede com o controle sobre o mau uso da tecnologia?
Zittrain – Sim, ela não é anárquica. Aceita a participação de todos, mas tem regras e colaboradores que analisam, limpam e cuidam do conteúdo. A Wikipédia mostra que há meios de fazer isso sem recorrer ao controle autoritário. Há lições a aprender com a Wikipédia.
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