Fernanda Muller
O grande desafio da civilização é “construir e cultivar a sustentabilidade”, disse o autor de livros como A Teia da Vida e Conexões Ocultas. Para Capra, o conceito de sustentabilidade está ligado à estruturação das comunidades de maneira que elas não interfiram na habilidade da natureza de sustentar a vida.Nas últimas três décadas, segundo o físico, a humanidade passa por um novo tipo de capitalismo, que engloba inovações e sabedoria. A globalização resultou na acumulação de capital por poucos, em conseqüências ambientais desastrosas, na quebra da democracia e no aumento da pobreza, afirmou Capra.
As biotecnologias ‘invadiram a santidade da vida’, que foi transformada em commodity, disse. Tudo isto é insustentável social, ecológico e financeiramente. “Precisamos mudar este jogo”, enfatizou o físico.
Capra dá pistas de como começar esta mudança, afirmando que o primeiro passo é reconhecer a possibilidade de remodelar esta situação e percebendo que os lucros não são superiores a tudo. Para ele, a questão crítica não é tecnológica, mas sim a falta de vontade política.
Movimento Global da Justiça
O físico apresentou o Movimento Global da Justiça, composto por ONGs e que propõe medidas concretas para a reestruturação das instituições financeiras. Este novo tipo de movimento político depende de uma rede de institutos de pesquisas, pensadores e estudiosos.
Segundo ele, três são os pontos que devem ser focalizados: o desafio de remodelar a política, as controvérsias entre transgênicos e agricultura sustentável e o design ecológico. Isto tudo precisa ser feito com uma compreensão de como a natureza sustenta a vida, entendendo as conexões. “Precisamos passar da biologia para a ecologia”, disse ele ao referir-se à visão sistêmica e às interconexões dos processos ecológicos. Conhecer a teia da vida, salienta, é crítico para este novo design.
Tocando em um ponto falho da base da vida humana, Capra destacou que “a literatura ecológica deve ser a parte mais importante da educação em todos os níveis. “Precisamos ensinar nossas crianças, políticos e estudantes.”
Para o físico, este é o primeiro passo no caminho para a sustentabilidade. O segundo seria o design ecológico. “Temos que entender o vazio entre o design humano e da natureza. Os princípios do design ecológico refletem os princípios da organização que a natureza desenhou para apoiar a teia da vida”, reflete.
Este novo desenho inclui a agricultura orgânica, clusters industriais ecológicos e a mudança de uma economia orientada pelos produtos para uma guiada para os serviços. Atualmente já existem edifícios que produzem mais energia do que consomem e que não geram resíduos; assim como células a combustível de hidrogênio, que incorporam os princípios básicos da ecologia: pequenas escalas, não poluidoras e nem geradoras de resíduos.
Capra defende que a energia nuclear não possui um design ecológico, com diversos riscos, como a falta de conhecimento de como processar os resíduos radioativos. De acordo com ele, nenhuma empresa de seguros irá assegurar um reator nuclear. Além disso, o físico afirma que o urânio não é um combustível renovável e a tecnologia aplicada para a produção desta energia não é viável sem subsídios governamentais.
Vontade Política
Com as tecnologias disponíveis atualmente, a transição para um futuro sustentável é possível, “tudo que precisamos é vontade política e liderança”, garante. Capra diz que a vontade política tem aumentado, como o papel de Al Gore na criação de uma consciência ecológica, o Relatório do economista inglês Nicholas Stern que aponta a possibilidade de estabilizar as mudanças climáticas investindo apenas 1% do Produto Interno Bruto (PIB) global e o livro de Lester Brown, fundador do Worldwatch Institute.
A obra “Plano B 3.0″ é um guia detalhado para “salvar a civilização”, nas palavras de Capra. Ele destacou a importância da eleição de Barack Obama, dizendo que o novo presidente é inteligente, curioso e atencioso. “É um ótimo ouvinte, facilitador e mediador”. O seu programa político dá ênfase para as energias renováveis e pretende criar cinco milhões de empregos ‘verdes’.
“Outro mundo é possível, sim nós podemos”, concluiu Capra em uma analogia aos slogans do Fórum Social Mundial e da campanha de Obama.
(CarbonoBrasil)
http://mercadoetico.terra.com.br/arquivo/outro-mundo-e-possivel-sim-nos-podemos/
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