Para Chomsky, crise marca o fim de um modelo fundamentalista
A crise financeira atual representa também a crise de um modelo cultural que tem como principal doutrina o fundamentalismo do livre-mercado. A opinião é do lingüista e intelectual norte-americano Noam Chomsky.
Em rápida entrevista à Agência Reforma, do México, Chomsky diz que esse modelo foi um desastre para a humanidade, "um duro golpe contra a democracia" nas últimas décadas. Confira abaixo:
Qual é a magnitude da atual crise econômica?
Ninguém sabe quão grave será. E não é uma só crise: são várias. Uma é a crise financeira que se encontra nas primeiras páginas. Outra é a recessão na economia real, ou seja, a economia produtiva. Uma terceira, nos Estados Unidos, é a iminente crise do ineficiente e custoso sistema privado de atenção à saúde. Esses problemas interagirão de maneira complexa.
Não vejo nenhuma utilidade em compará-la com a queda do Muro de Berlim. Esse foi um passo crucial para a queda da União Soviética. Não dá indícios de que as instituições do Estado capitalista estejam enfrentando um destino similar, exceto setores como os bancos de investimento e, por diferentes razões, setores industriais como o automobilístico nos Estados Unidos.
Não vejo nenhuma utilidade em compará-la com a queda do Muro de Berlim. Esse foi um passo crucial para a queda da União Soviética. Não dá indícios de que as instituições do Estado capitalista estejam enfrentando um destino similar, exceto setores como os bancos de investimento e, por diferentes razões, setores industriais como o automobilístico nos Estados Unidos.
Quais são as lições dessa crise?
A mais imediata é que o fundamentalismo de mercado foi um desastre, o qual não deveria surpreender os latino-americanos ou outros povos submetidos a essa disciplina. Mais especificamente, a liberalização financeira conduz ao desastre. Também o fato de que a liberalização é um sério golpe contra a democracia. Outra lição sublinha a sensível observação política do principal filósofo social estadunidense do século 20, John Dewey: a política é "a sombra que as grandes empresas projetam sobre a sociedade".
Será o ocaso do poder dos EUA e o início da hegemonia da China ou da Índia?
É muito pouco provável, apesar de que a crise pode levar adiante o processo de diversificação da economia mundial. Os EUA têm enormes vantagens, além de seu opressor poderio militar. A Europa tem uma economia de escala comparável, mas é heterogênea e prefere se manter à sombra dos EUA. China e Índia vêm crescendo, assim como outros países da Ásia que desafiam a lógica ortodoxa neoliberal, mas têm enormes problemas internos. Um indicador está dado pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU: a China ocupa o 81º lugar; a Índia, o 128º. E isso é apenas a superfície.
É a crise das finanças ou a crise de um modelo cultural?
É a crise de um "modelo cultural" se desse modo nos referirmos a um sistema doutrinário: o fundamentalismo do livre-mercado. Mas, apesar das pretensões, essa doutrina nunca foi aceita pelos mesmos centros de poder ocidentais. Isso é como um patrão histórico que se remonta por séculos, e é um importante fator na criação do Terceiro Mundo nas regiões colonizadas.
Quais serão as conseqüências da crise econômica no âmbito cultural?
Isso é imprescindível. As crises econômicas freqüentemente vêm acompanhadas pela aparição da grande arte.
http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=46134 - 04/11/2008
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