segunda-feira, 1 de março de 2010

Pensando no futuro

O futuro dos empregos

Para Thomas Malone, autor do livro O Futuro dos Empregos, planejar a carreira ainda é fundamental. Mas ele alerta: é preciso reavaliar os projetos constantemente

                                                                                                               Crédito: ® Divulgação
O professor e escritor Thomas Malone: o emprego fixo vai ser substituído por ocupações temporárias

Professor de liderança e tecnologia da informação na escola de administração MIT Sloan School of Management, nos Estados Unidos, o americano Thomas Malone estuda, há mais de 20 anos, as implicações da informática no mercado de trabalho. Seu livro O Futuro dos Empregos (Editora MBooks), lançado em 2004, já é um clássico sobre trabalho e vida moderna. Nele, Thomas mostra como a internet transformou o emprego tradicional, proporcionando aos profissionais maior flexibilidade e liberdade para escolher os rumos de suas carreiras. Em entrevista a VOCÊ S/A, ele explica como planejar o futuro profissional em um mundo cheio de possibilidades.

Em O Futuro dos Empregos o senhor diz que será cada vez mais comum as empresas contratarem colaboradores que trabalharão por projetos, longe do escritório. Pensando nesse cenário flexível, faz sentido planejar a carreira?
Planejar ainda é útil, mas é preciso mudar a maneira de pensar o futuro. Em vez de imaginar a carreira em apenas uma companhia, é importante refletir sobre movimentações complexas. O escritor americano Alvin Toffler previu este cenário em 1970, dizendo que os trabalhadores teriam trajetórias profissionais flexíveis, mudando frequentemente de emprego. A previsão está sendo concretizada. E a tendência para o futuro é construir o “portfólio de carreira”: trabalhar em diferentes projetos ao mesmo tempo.

Qual é a melhor maneira de pensar a carreira atualmente?
É importante começar pensando sobre as áreas nas quais se tem mais competência e afinidade. Depois dessa seleção fica mais fácil pensar em trabalhos remunerados e não remunerados (como a atuação numa ONG, por exemplo), que, combinados, ajudam um profissional a ganhar experiências e assim desenvolver a carreira.

Em O Futuro dos Empregos há a seguinte frase: “Se as situações mudam bastante, nem sempre é possível planejar tudo. Então, improvise”. Como improvisar de maneira eficiente?
Improvisar não significa deixar de pensar sobre o futuro. A improvisação é importante para, ao longo dos anos, se fazer ajustes no plano geral de carreira — modificações que ocorrem de acordo com o surgimento de novas oportunidades e novos obstáculos. Mas é importante estabelecer objetivos gerais a serem cumpridos.

Como estabelecer essas grandesmetas num mundo repleto de possibilidades?
Nas minhas aulas sugiro uma maneira eficiente para definir esses objetivos. Imagine-se bem velhinho e responda: “O que quero conquistar para, no fim da vida, me orgulhar do que fiz?”.

O que interessa mais para as empresas: profissionais generalistas ou especialistas?
A grande tendência é as empresas procurarem por profissionais altamente especializados, mas com conhecimentos gerais em outras áreas.

Como as novas gerações vão mudar a maneira como encaramos o trabalho?
Os jovens veem o trabalho com mais despojamento. Eles esperam usar a tecnologia livremente, em casa ou no trabalho. Por isso cresce a exigência por mais liberdade dentro do escritório. Felizmente, tecnologia e liberdade andam juntas: o livre acesso à informação vai ajudar essa geração a conseguir embasamento teórico para escolher, de maneira mais sensível, os rumos da carreira e da vida.

Quais empregos exemplificam a nova forma de enxergar o trabalho?
Um bom exemplo são os profissionais que trabalham com vendas no site de comércio online eBay. Há maisde 700 000 pessoas vivendo disso. Elas são donas do próprio negócio, não têm chefes e dependem apenas de uma infraestrutura eletrônica global fornecida pelo eBay para trabalhar. É um modo colaborativo de pensar o trabalho.

De que maneira a visão mais livre do mercado de trabalho vai mudar o alto comando das empresas?
Hoje, as lideranças existem para “comandar e controlar”. As empresas precisam mudar essa visão e usar a chefia para “coordenar e cultivar”. O papel dos profissionais de alto escalão é assegurar que as melhores decisões sejam tomadas e as soluções mais criativas podem surgir em qualquer nível da hierarquia. Para extrair o melhor dos empregados, a chefia tem de cultivar o potencial de cada um de seus profissionais. A liderança será cada vez mais colaborativa, exercida por todos os funcionários.

O que ocorrerá no futuro com profissões tradicionais, como engenharia e administração de empresas?
Ainda haverá espaço para esses profissionais. O que vai mudar é o modo de trabalho: eles terão mais liberdade nas grandes empresas e serão chamados para trabalhar em projetos. Os empregos de longuíssimo prazo estão com os dias contados.

No futuro, o que medirá o sucesso profissional?
O sucesso será um reflexo da reputação, e não do cargo. Um profissional vai preferir ter o respeito e a admiração de sua rede de contatos do que ostentar um cargo executivo no cartão de visita. E, mais importante, o sucesso não será medido apenas pelo dinheiro. As pessoas passarão a dar mais valor à satisfação pessoal: o trabalho precisa trazer também felicidade.
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Reportagem de: Eliza Tozzi (redacao.vocesa@abril.com.br)
Fonte: Você s/a online, acesso 01/03/2010

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