domingo, 22 de novembro de 2009

Eleições estão chegando...

Entrevista - José Eduardo Dutra



Apoiado pelo presidente da República para assumir a direção do Partido dos Trabalhadores na eleição interna de hoje, o ex-comandante da Petrobras vê como principal desafio do cargo a costura de alianças em torno da candidatura de Dilma

Tiago Pariz

Favorito para vencer a eleição interna do PT e se tornar presidente da legenda com a responsabilidade de trabalhar pela vitória de uma candidata não testada nas urnas, José Eduardo Dutra, ex-presidente da Petrobras e ex-senador, estabeleceu como meta algo que acha difícil concretizar: a ampla aliança de partidos em torno da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Ele defende que a candidata petista fique até o último dia permitido pela lei no governo para aproveitar a exposição natural ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Dutra acredita que o candidato do PSDB será o governador José Serra, que aponta como um candidato competitivo, e coloca o desconhecimento do eleitor em relação à ministra como o principal problema para a campanha. “Se compararmos o conhecimento da população, o Serra é mais conhecido, já foi de tudo, deputado, senador, governador, mas nada que não seja reversível.”
O geólogo mineiro que fez carreira em Sergipe tem as mesmas raízes do presidente Lula. Foi o movimento sindical que o levou à política. O candidato que coleciona mais derrotas que vitórias em sua trajetória política não demonstra tanta confiança na senadora Marina Silva (PV-AC). Ele tem dúvidas se ela apoiaria a candidata petista num eventual segundo turno com um concorrente tucano. “Tudo indica que ela será candidata, e espero estarmos juntos num 2º turno. O problema é que em política nem tudo que caminha é o que acontece no final.”
No Senado, Dutra chegou a ser acusado de envolvimento na violação do painel eletrônico do Senado no episódio da cassação de Luiz Estevão, mas a denúncia foi arquivada por falta de provas. Para ele, é necessária uma eleição plebiscitária e confessa estar preocupado com a possibilidade de o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) se lançar na disputa pela Presidência da República. O ex-senador e ex-presidente da Petrobras concedeu uma entrevista ao Correio por telefone. Veja abaixo os pontos mais importantes.

O dono do voto de Lula
O Serra é mais conhecido, até porque já foi deputado, senador, governador, mas nada que não seja reversível na campanha. O Lula, com a popularidade que tem, vai exercer um papel fundamental”

Exposição de Dilma
Sou contra a ministra Dilma antecipar a saída do governo. Do ponto de vista da visibilidade, diante do fato de ela não ser tão conhecida, é preciso mais exposição e que ela continue no governo até o período regulamentar.

O papel de Lula
O presidente Lula será o principal eleitor na eleição do ano que vem. Ele é a maior liderança política do Brasil. Espero que tenha atuação incisiva. Se compararmos o conhecimento da população, o Serra é mais conhecido, até porque já foi de tudo: deputado, senador, governador, tem grande conhecimento da população, mas nada que não seja reversível na campanha. O Lula, com a popularidade que tem, vai exercer um papel fundamental.

Segundo na chapa
O vice naturalmente é do PMDB. Esse é um processo que não cabe ao PT opinar, cabe ao PMDB escolher e ao candidato analisar. Não tenho nada contra o deputado Michel Temer, mas não cabe ao PT opinar.

Fator Ciro
Estou preocupado com a hipótese de o Ciro ser candidato. Respeito a preocupação do Ciro, que defende a hipótese de haver dois candidatos da base governista. Mas, numa eleição como essa, onde a tendência é claramente polarizar entre dois projetos, o ideal é ter apenas uma candidatura da base. E isso não depende de nós, o PSB tem autonomia e legitimidade, o Ciro tem história e peso político para ser candidato a qualquer coisa. Dentro do núcleo do governo, é estratégico manter uma aliança que vem desde a eleição de 1989. Vamos trabalhar para isso. E, se o PSB lançar candidato, não será de oposição. De qualquer forma estaremos juntos.

Marina e o rubor
Eu me recuso a classificar a Marina como oposição. Não combina com ela porque ela fez parte desse projeto por muito tempo. Tudo indica que será candidata, e espero estarmos juntos num 2º turno. O problema é que em política nem tudo que caminha é o que acontece no fim das contas. Mas acho que a Marina tira mais votos do Serra do que da Dilma. O eleitorado dela é da classe média urbana das grandes cidades, que não votaria mais no PT e tenderia a dar um voto envergonhado ao Serra. Ele enxerga na Marina uma novidade e uma utopia.

Fetiche estadual
Lançamento de candidatura própria não pode ser fetiche. O simples fato de lançar candidato não significa que vai ganhar eleição. Temos que trabalhar em torno de um nome e apresentar aos partidos aliados, sem imposição. Precisamos trabalhar para construir um palanque único. Sem veto, a priori. Não pode ser fetiche do PT lançar candidato próprio por lançar, nem em São Paulo, nem no Acre, nem em Sergipe.

Alianças difíceis
O grande desafio dessa direção que vai ser eleita é conduzir uma eleição que não tem o Lula como candidato. A tarefa prioritária do partido é continuar no comando do governo federal. E precisa tentar, na medida do possível, uma aliança com a maior parte dos partidos governistas: PMDB, PSB, PDT, PTB. Sei que não é fácil porque as eleições são gerais. E, embora não haja verticalização, o ideal é fazer os estados repetirem a lógica nacional. Essa tarefa não é fácil, mas estou animado.

Efeitos do apagão
É ótimo que a oposição levante essa bandeira na eleição. O chamado apagão teve cinco horas. O deles foi de cinco horas e 11 meses, que foi o tempo do racionamento. O problema que teve não é de gestão ou falta de investimento. Foi uma falha num sistema complexo com o atual grau de interligação que tem. Na época do Fernando Henrique, o racionamento ocorreu por falta de investimento. Se a oposição nadar por essa raia, vou achar ótimo. Vamos comparar com todas as áreas, e nessa, de infraestrutura e energia, temos mais a mostrar.

FONTE: Correio Braziliense - 22/11/2009 - Reportagem de TIAGO PARIZ

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