FRANCES WISEMAN
Entrevista
Promissora, mas ainda recente
Pesquisador do Instituto de Neurologia da University College London, o médico Frances Wiseman foi convidado pela revista Science para comentar os resultados da pesquisa que sugere um novo tratamento para a síndrome de Down. Em entrevista ao Correio, ele diz que é cedo para afirmar que o estudo se reverterá em novas drogas, mas destaca a importância da pesquisa para a melhor compreensão da síndrome.
Existem atualmente outros estudos tão promissores quanto o desenvolvido pelo pesquisador Ahmad Salehi?
Há várias drogas, como as usadas no estudo do doutor Salehi, sendo estudadas para melhorar a cognição em modelos de laboratório. Essas drogas, como pentileneterazol e mematina, agem nos canais de íons do cérebro e modificam a transmissão dos sinais elétricos entre os neurônios. Os efeitos no tratamento em pessoas portadoras da síndrome de Down, contudo, ainda não foram reportados. Também existe outra droga, a donepezil, que tem sido administrada para os portadores, mas em testes de pequeno porte. Em alguns desses testes, não houve melhora no processo de aprendizagem ou memória. Outros estudos demonstraram pequenos progressos, principalmente quanto às habilidades de linguagem.
A pesquisa do doutor Salehi pode realmente oferecer esperança aos portadores da síndrome ou ainda é muito cedo para se dizer isso?
O estudo demonstrou um progresso na memória de modelos de rato com síndrome de Down — embora seja muito excitante, é importante lembrar que ainda serão necessários ensaios clínicos para testar a segurança e a eficácia das drogas antes de tirar a pesquisa do papel. Além disso, a síndrome de Down é uma condição genética muito complicada e dificilmente apenas uma droga possa reverter completamente todos os problemas de aprendizagem e memória decorrentes dela. Cada nova descoberta oferece novas oportunidades para ajudar pessoas com a síndrome, mas não há garantia de que as drogas propostas no estudo realmente melhorarão esses processos.
Qual aspecto da pesquisa o senhor achou mais interessante para a ciência?
A coisa mais importante a respeito das descobertas do doutor Salehi é que a pesquisa examinou uma parte do cérebro, o locus coeruleus, que ainda não havia sido completamente estudado na síndrome de Down. O resultado desse grupo de estudo não apenas sugere uma nova abordagem terapêutica, mas indica uma nova área cerebral que os cientistas podem estudar mais para entender melhor a síndrome de Down.
Excerto da Reportagem de PALOMA OLIVETO para CORREIO BRAZILIENSE, 19/11/2009
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