sábado, 21 de novembro de 2009

Obama, perigo do vazio de poder no mundo


'Até o momento, não aconteceu grande coisa' com Obama,
 diz francês especialista em geopolítica
Para o francês Emmanuel Todd, o governo do norte-americano Barack Obama é uma garantia de que a "América não vai ficar louca" nem passar da "direita extrema à extrema-direita", como parecia ser a tendência durante o governo de George W. Bush.

"Obama faz políticas razoáveis e retoma discussões no plano internacional, mas até o momento não aconteceu grande coisa. Guantánamo mesmo ainda não fechou", diz Todd, um demógrafo especialista em geopolítica que defende que vivemos, no momento, a perda de importância do poder norte-americano no mundo.

Pesquisador do Instituto Nacional de Estudos Demográficos francês, Todd é autor de "Depois do Império" (Record), que trata da fragilidade econômica dos Estados Unidos no começo do século 21 e do esforço que o país faz para manter sua influência. Todd também é um respeitado analista da geopolítica internacional por ter escrito, ainda nos anos 1970, um estudo sobre a provável desintegração do sistema soviético.

"Não é sua culpa, na verdade", disse ele ao UOL Notícias, referindo-se a Obama. "No sistema político norte-americano, o presidente não é todo-poderoso. Obama é menos poderoso no sistema presidencialista norte-americano que Nicolas Sarkozy no sistema parlamentarista francês. Felizmente a França não tem o mesmo poder que os Estados Unidos. Se fosse, estaríamos mal", brinca.

Todd afirma que a política unilateralista de Bush e as intervenções militares dos Estados Unidos eram preocupantes. "Comecei a me perguntar se não estávamos nos anos 1930, na ascensão do fascismo. Agora, em plena crise econômica, o eleitorado americano vota pela centro-esquerda, põe um democrata no poder."

"Por outro lado", continua, "desde que ele foi eleito, eu me pergunto o que ele realmente poderá fazer. Porque a sociedade norte-americana é ainda organizada no plano racial, e a capacidade de [um homem sozinho] recolocar a América a trabalhar, relançando a industrialização, reorientando todo o sistema de ensino para a produção etc. é pequena. E Obama tem de enfrentar essa questão fundamental que é o déficit comercial americano, porque a América vive um pouco da predação financeira do mundo."

Todd também acha que o de Obama ser negro o fragiliza no jogo político norte-americano. "Nesse sistema, ele terá de mostrar sempre que é 'um bom americano'".

Na comparação com Franklin Roosevelt, que enfrentou a crise dos anos 1930, é uma dificuldade a mais para o atual presidente dos EUA, avalia. "Ele não tinha de mostrar isso, porque ele era já de uma família aristocrática, porque já tinha um primo que havia sido presidente", diz. "Acontece de me interpretarem mal por dizer isso, mas acho que a esquerda é mais eficaz quando ele conquista o poder com uma parte da aristocracia."

Todd acha que a grande força dos EUA, hoje, vem de um certo "medo do vazio": "Sentimos nas classes dirigentes um certo medo da desaparição dos Estados Unidos. Isso explica o que havia por trás da Obamania. Certo, Obama é muito simpático, é legal os Estados Unidos terem um presidente negro, Obama é inteligente, as pessoas tinham motivos para se entusiasmarem", afirma Todd.

"Mas para além do entusiasmo positivo por Obama, há um certo medo do vazio. Assim, a força da América não está nela mesma, não está nos seus recursos econômicos, materiais ou morais. O grande recurso da América, hoje, é o medo do vazio que reina no planeta."
*O demógrafo  francês Emmanuel Todd, que previu, nos anos 1970, a derrocada do sistema soviético

Reportagem de:  Haroldo Ceravolo Sereza -Do UOL Notícias - 21/11/2009

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