sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Para compreender a gentileza

Ronaldo Pilati*

Na última sexta-feira, 13 de novembro, foi comemorado o Dia Internacional da Gentileza. O tema é importante e diz respeito às relações sociais em nossa vida cotidiana. Nós, psicólogos sociais, definimos como comportamento prossocial uma série de condutas humanas que dizem respeito ao benefício de outras pessoas. A gentileza é um tipo de conduta prossocial, que se refere, na grande maioria das vezes, às interações que temos cotidianamente de forma direta ou indireta com outras pessoas que habitam o mesmo ambiente socioespacial em que vivemos.

Porque nos comportamentos de forma gentil? Quais são os fatores que determinam a gentileza em uma pessoa, em grupos ou em uma sociedade? Em uma primeira análise, a resposta a essas perguntas pode nos levar a imaginar que o comportamento gentil de uma pessoa é exclusivamente fruto de características que ela leva consigo, como valores, cultura ou personalidade. Sem dúvida, as características individuais são importantes determinantes do comportamento de civilidade. Isso é evidenciado na Psicologia por uma série de estudos que demonstram haver fatores relativos à própria história evolutiva da espécie humana, que nos deixam preparados a agir de forma prossocial com outros semelhantes. Por exemplo, os estudos sobre neurônios-espelho indicam nossa capacidade de emular estados emocionais das outras pessoas, possibilitando que tenhamos sentimentos empáticos por nossos semelhantes.

Muitos estudos em psicologia social têm demonstrado essa possibilidade de sentirmos empatia pelo outro, aumentando as chances de que nos comportemos de forma favorável em diferentes situações sociais. Mas o que sabemos até agora também aponta que compreender estes fatores individuais é uma condição necessária - mas não suficiente - para se responder o porquê da gentileza - ou da falta dela. Um fator essencial diz respeito às normas sociais. São regras negociadas e criadas pelos grupos sociais para solucionar a convivência entre os indivíduos do grupo. A definição de lugares especiais no transporte coletivo para idosos e portadores de necessidades especiais, as vagas de um estacionamento, a devolução de um objeto perdido ao seu dono ou segurar uma porta aberta para o próximo transeunte são exemplos de normas sociais.

Algumas delas já foram explicitadas em regras e códigos de conduta (ex: código do trânsito, estatuto do idoso), mas outras não. As normas influenciam muito a gentileza, até porque elas podem ser automaticamente ativadas pelas situações e guiar o comportamento das pessoas. Mas é importante compreender que estes aspectos normativos devem estar presentes no ambiente, tanto no comportamento das demais pessoas que o utilizam como no próprio ambiente físico. Por exemplo, jovens que se sentam em assentos preferenciais para idosos no transporte coletivo, estacionamentos nos quais os usuários estacionam impedindo o acesso aos rebaixos da calçada ou calçadas que não possuam os rebaixamentos de acessibilidade. São situações muito freqüentes em nosso país e que revelam a quebra da norma social da gentileza. Estas quebras são indutores fundamentais do comportamento não gentil dos cidadãos, exacerbando nossa percepção de falta de gentileza de nossa população.

Sem dúvida, compreender a gentileza de uma sociedade é fundamental para que possamos desenvolver formas de conviver melhor, por meio da formação da geração atual e das futuras. Mas não podemos atribuir unicamente ao indivíduo e às suas características o comportamento gentil, mas sim à interação das características individuais com o meio social e ambiental. É insuficiente imaginar que somente formar indivíduos com valores de civilidade e gentileza seja condição suficiente para sermos mais gentis em nossas relações diárias, principalmente em uma sociedade em que muita gente se comporta quebrando a norma da gentileza, bem como espaços urbanos que não criam condições para que as interações sociais ocorram de forma gentil e cortês.

*Ronaldo Pilati é professor de Psicologia Social do Departamento de Psicologia Social e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em Psicologia. Pesquisador do Laboratório de Psicologia Social da UnB. Coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Psicologia Social (GEPS). Desenvolve projetos de pesquisa sobre a psicologia da deliberação legal.

FONTE: http://www.unb.br/noticias/unbagencia/artigo.php?id=210

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