Livre das obrigações acadêmicas desde que se aposentou de Oxford, em 2008, o biólogo evolucionista inglês Richard Dawkins desfere, neste novo livro, o seu ataque mais ácido ao criacionismo
Randy Olson (NewScientist), com Peter Moon
O maior espetáculo da Terra: as evidências da evolução (Cia das Letras)
será lançado no dia 29 de novembro
O biólogo inglês Richard Dawkins, 68 anos, é sem sombra de dúvida o maior divulgador vivo da teoria da evolução. Seu primeiro livro, O gene egoísta (1976), inspirou uma geração de estudantes de biologia, enquanto o penúltimo, Deus, um delírio (2006), serviu como um poderoso argumento para elevar a autoestima dos ateus, incentivando-os a sair do armário. Com o seu novo livro, esplendidamente intitulado de O maior espetáculo da Terra - As evidências da evolução (Editora Companhia das Letras, 475 páginas, R$ 53), Dawkins faz uma defesa inabalável da teoria da evolução, formulada há exatos 150 anos por Charles Darwin, com a publicação de A origem das espécies (1959). O objetivo de Dawkins é justificar a validade da teoria ao público leigo – e avesso – à evolução. Sua meta é converter a massa ignara que, em nome de convicções religiosas, insiste em dar as costas ao princípio basilar das biociências, da genética e da medicina do século XXI.
Partir do princípio de que seu público-alvo é estúpido não seria um bom ponto de partida para o livro. No entanto, é precisamente isto o que Dawkins faz nesta sua cruzada científica evangelizadora. Ele inicia citando dois livros seus antigos, apenas para observar que, quando os escreveu nos anos 1980, “as pessoas eram, aparentemente, mais inteligentes” e ele não precisava argumentar que a evolução de fato aconteceu. “Não parecia ser necessário”, diz.
Estava enganado. Prova disso é a expansão, principalmente nos Estados Unidos, do criacionismo, movimento pseudo-científico que renega Darwin, e defende a necessidade de uma “inteligência superior” para justificar a complexidade da vida e do universo. Definido quem é o inimigo a ser enfrentado, Dawkins, já no primeiro capítulo, compara a sua tarefa à de um professor de história forçado a ensinar “um bando de ignorantes (...) À exceção daqueles lamentavelmente desinformados, é obrigação de todos aceitarem a evolução como um fato”.
IRONIA
“Este não é um livro antirreligioso”,
afirma, antes de começar a bater sem dó
nos dogmas religiosos.
Em cada capítulo, Dawkins destila ironia. “Este não é um livro antirreligioso”, afirma, antes de começar a bater sem dó nos dogmas religiosos. “Deus, é bom repetir o que deveria ser óbvio, mas não é, jamais criou uma asinha”, qualquer. Para Dawkins, os jovens criacionistas foram “iludidos até as raias da perversidade”. Tem-se a impressão de que Dawkins não consegue controlar sua ira. Ou melhor, desde que se aposentou em 2008 da Universidade de Oxford, Dawkins não tem mais porque refrear o seu ímpeto antirreligioso.
O maior espetáculo da Terra não é um mau livro – Dawkins não saberia escrever algo que fosse ruim. No entanto, pode-se perguntar por que ele perde tanto tempo tentando argumentar com os criacionistas. Todos nós sabemos que os criacionistas não são pensadores racionais. Eles são movidos por suas crenças, não pela lógica. Eis aí a justificativa da profissão de fé deste grande cientista. Dawkins não tem medo de ser politicamente incorreto. Não tem papas na língua. Não tem medo de criar polêmica nem chamar os criacionistas de imbecis. A única coisa que Dawkins teme é a ignorância.
FONTE: REVISTA ÉPOCA online, 19/11/2009
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