segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O apocalipse está chegando? Talvez, mas não em 2012

DENNIS OVERBYE


Não há por que temer o fim do calendário maia

A Nasa, agência espacial americana, garantiu recentemente que o mundo não vai acabar -ao menos não em breve. No ano passado, o Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern) disse a mesma coisa, o que suponho que seja uma boa notícia para pessoas habitualmente nervosas como nós.

Por outro lado, a notícia é ruim para quem estava ansioso para tirar férias da hipoteca a fim de financiar um último surto consumista. As declarações do Cern se destinavam a afastar os temores de que um buraco negro escaparia do seu Grande Colisor de Hádrons e sugaria a Terra.

Já os anúncios da Nasa, na forma de posts em sites e de um vídeo no YouTube, eram uma resposta às preocupações de que o mundo acabará em 21 de dezembro de 2012, quando supostamente termina um ciclo de 5.125 anos do calendário maia, a Longa Contagem.

O burburinho apocalíptico atingiu o auge com o lançamento do filme "2012", de Roland Emmerich. Nesse filme, um alinhamento entre o Sol e o centro da galáxia, em 21 de dezembro de 2012, causa violentas tempestades na superfície solar, liberando enormes quantidades de partículas subatômicas chamadas neutrinos.

De alguma forma os neutrinos se transformam em outras partículas e aquecem o núcleo da Terra, cuja crosta então se enfraquece e começa a deslizar sobre a superfície. Los Angeles cai no oceano; o vulcão Yellowstone explode, polvilhando o continente com cinza negra; maremotos varrem o Himalaia, onde os governos do planeta secretamente construíram uma frota de arcas em que seletas 400 mil pessoas podem escapar da tempestade.

Mas essa é apenas uma das versões do apocalipse que circulam. Em outras variações, um planeta chamado Nibiru colide conosco, ou o campo magnético da Terra é revirado. Tudo isso, segundo os astrônomos, é absurdo.

"A maioria do que se diz para 2012 se sustenta em pensamento desejoso, tolice pseudocientífica, ignorância da astronomia e um nível de paranoia digno de 'A Noite dos Mortos-Vivos'", escreveu Ed Krupp, diretor do Observatório Griffith, de Los Angeles, em artigo na edição de novembro do periódico "Sky & Telescope".

Assustar o público é parte do jogo desde que Orson Welles transmitiu "A Guerra dos Mundos", um falso noticiário de rádio sobre uma invasão marciana em Nova Jersey, em 1938.

Mas a tendência tem ido longe demais, sugeriu David Morrison, astrônomo da Nasa na Califórnia, que fez o vídeo do YouTube e é um dos funcionários da agência encarregados de falar sobre as profecias apocalípticas. "Fico irritado com o jeito como as pessoas estão sendo manipuladas e assustadas para que [outros] ganhem dinheiro", disse.

Os cientistas dizem que, se é para se preocupar, é melhor pensar na mudança climática, em asteroides à deriva ou numa guerra nuclear. Mas, se especulações sobre antigas profecias lhe entusiasmam, eis algumas coisas que Morrison e outros acham que você deve saber.

Para começar, concordam os astrônomos, não há nada de especial sobre o alinhamento do Sol com o centro galáctico. Acontece todo mês de dezembro, sem nenhuma consequência física.

Se houvesse um planeta vindo na nossa direção, todo o mundo já poderia vê-lo. Quanto às terríveis tempestades solares, o próximo pico de uma mancha solar só irá acontecer em 2013 e será brando, segundo os especialistas.

O apocalipse geológico é uma aposta melhor. Um grande terremoto na Califórnia pode destruir Los Angeles, como mostra o filme, e o Yellowstone cedo ou tarde pode entrar em erupção de novo com a força de um cataclismo. Mas "cedo ou tarde" significa centenas de milhões de anos, e haveria vários alertas.

Os maias, que sabiam de astronomia e contagem do tempo o suficiente para prever a posição de Vênus até 500 anos depois, mereciam algo melhor.

O tempo maia era cíclico, e especialistas como Krupp e Anthony Aveni, respectivamente astrônomo e antropólogo da Universidade Colgate (EUA), dizem não haver evidência de que os maias pensassem que algo especial aconteceria ao final desta Longa Contagem, em 2012. Sendo assim, trate de continuar pagando a hipoteca.

FONTE: Folha de São Paulo The New York Times - 30/11/2009

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