quinta-feira, 4 de novembro de 2010

‘Não existe alternativa ao capitalismo’, afirma Lipovetsky



 Imagem da Internet

“Se os empresários espanhóis puderem utilizar, mesmo que seja uma pequeníssima ideia do que digo para melhorar as coisas, não me sentiria absolutamente incomodado”, explica Gilles Lipovetsky (Paris, 1944). O filósofo francês, célebre teórico da pós-modernidade que descreveu há quase três décadas em A Era do Vazio (Relógio d'Água), entende que o capitalismo é indefectível, e que, por isso, não nos devemos negar a mostrar aos dirigentes as bondades que há, por exemplo, no fato de não espremer muito os empregados.

“Eu não demonizo nem o capitalismo nem a empresa”, relata, pouco antes de intervir em Santiago de Compostela na convenção de dirigentes da Associação para o Progresso da Direção (APD). Mas sua tarefa pedagógica se adivinha árdua após ouvir José María Aguirre, presidente da APD e ex-presidente do Banco Guipuzcoano, que falou antes do autor de O Império do Efêmero (Companhia das Letras). “Alguém de vocês confia no G-20?”, lançou o empresário, que se mostrou muito simpático à ideia de equiparar o papel institucional de empresas transnacionais e Estados.

O filósofo tranquilizou os participantes, chegada a sua vez, sobre os efeitos da crise nos hábitos de consumo: serão poucos, pois a tendência ao hiperindividualismo é irrefreável. “Nossa época não dispõe de nenhum sistema alternativo confiável à mercantilização total dos modos de vida”, assegurou de forma veemente.
Mesmo que costume não se pronunciar sobre questões políticas concretas – “eu sou um observador”, repete – Lipovetsky aceitou opinar sobre a elevação da idade para fins de aposentadoria na França e os protestos que a medida provocou. “Era inevitável modificar a legislação com o aumento da esperança de vida”, defende, e atribui o rechaço da população em renunciar às conquistas sociais à “tradição secular de extrema esquerda, que não é eleitoralmente poderosa, mas exerce uma pressão moral sobre a esquerda governamental que impossibilita a aprovação de reformas”.
Sobre o presidente francês, Nicolas Sarkozy, Lipovetsky diz que é um “filho da televisão”. “Onde Mitterand poderia citar Balzac ou Maupassant, Sarkozy cita Clark Gable”, resume, e acrescenta: “Em si mesmo é um hiperpresidente, mas sua forma de querer condensar os poderes é mais uma tradição francesa que um traço da hipermodernidade”.
Mas se Lipovetsky se diz liberal, recusa a vertente extrema da ideologia. “O ultraliberalismo pode representar uma ameaça para a democracia, porque recompõe as desigualdades de classe”, assinala, ao mesmo tempo em que reivindica o papel dos Governos: “É preciso que o Estado controle a loucura do mercado; caso contrário, restarão apenas os poderosos e os outros”.
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A reportagem é de Víctor Honorato e está publicada no jornal espanhol El País, 03-11-2010. A tradução é do Cepat.
Fonte: IHU, 04/11/2010

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