Marcelo Gleiser*
Obviamente não estamos no período Permiano, mas a lição do passado sobre a mudança ambiental é clara
A extinção em massa mais famosa da história do nosso planeta é, sem
dúvida, a que acabou com os dinossauros e cerca de 50% da vida na Terra,
em torno de 65 milhões de anos atrás. O principal culpado, ao que tudo
indica, foi um asteroide de 10 km de diâmetro que caiu na península de
Yucatán, no México.
Mas essa catástrofe mal se compara à Grande Extinção, que ocorreu cerca de 252 milhões de anos atrás, no final do Permiano.
Cientistas estimam que cerca de 95% de todas as espécies marinhas, e uma
fração desconhecida -mas provavelmente comparável- das espécies
terrestres encontraram o seu fim em alguns milhões de anos, o que não
passa de um piscar de olhos em termos geológicos.
Embora outro impacto de um objeto vindo do espaço tenha sido proposto
como causa, pesquisa recente sugere que a mortandade se deveu à falta de
oxigênio na água, acoplada a um excesso de gás carbônico, que aumentou a
acidez e a temperatura do oceano. (Só havia um oceano na época.) Uma
amplificação não linear desses efeitos aumentou os danos; esponjas e
corais foram devastados.
Em um artigo recente para a revista científica "Annual Reviews of Earth
and Planetary Sciences", Jonathan Payne, da Universidade Stanford, e
Matthew Clapham, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, propõem
que a catástrofe coincidiu com uma das maiores erupções vulcânicas da
história e consequente dilúvio de basalto, que formou grande parte da
Sibéria. Essa erupção lançou quantidades enormes de gases na atmosfera,
comprometendo a química oceânica e causando uma mudança climática global
incluindo, possivelmente, a destruição da camada de ozônio, o que
explicaria a extinção das espécies terrestres. No estudo das mudanças
climáticas do passado ou na que ocorre atualmente, a ligação entre a
dinâmica dos oceanos e a da atmosfera é essencial.
Essa extinção serve de laboratório para o que anda ocorrendo hoje,
quando quantidades muito elevadas de gás carbônico vêm sendo lançadas na
atmosfera, causando a rápida acidificação e aquecimento dos oceanos. Em
1996, Andrew Knoll, um geólogo da Universidade de Harvard, sugeriu que o
aumento da concentração de CO2 na atmosfera teve consequências severas
para a vida marinha no período Permiano. "Hoje, nós humanos somos tão ou
mais eficazes do que os vulcões permianos no ato de despejar gás
carbônico na atmosfera", disse Knoll à repórter Alanna Mitchell, do "New
York Times".
Obviamente, não estamos no período Permiano, quando a Terra era muito
diferente do que é hoje. Por exemplo, existia apenas um continente,
Pangeia, e a química oceânica era bem diferente. Porém, a lição é
bastante clara, para aqueles que se dispõem a escutá-la: o aumento da
concentração de CO2 na atmosfera causa a acidificação dos oceanos, tendo
severas consequências para a vida marinha.
A grande diferença é que, agora, somos nós os culpados principais dessa
transformação global. E somos nós, também, os únicos que têm a
possibilidade de fazer algo para atenuar as mudanças que já ocorrem no
nosso planeta. Ignorar as lições da história nos leva a repetir os erros
do passado.
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