Mustafá Ali Kanso*
Muitos de meus alunos e mesmos meus colegas de profissão me
questionam, quanto ao desenvolvimento do hábito de estudar.
Principalmente quando sou flagrado nessa afronta inacreditável de
estudar todos os dias, seja preparando minhas aulas ou aprendendo algo
novo.
Estudar é um conceito chave e caracteriza o ato mais frutífero no
processo de ensino-aprendizagem. Quando alguém está estudando, está
criando uma oportunidade de aprender. Está hierarquizando procedimentos
que proporcionam os elementos essenciais para a construção do
conhecimento. O estudar e o aprender estão intimamente relacionados.
Daí o óbvio que muitos querem ignorar:
Daí o óbvio que muitos querem ignorar:
Para realmente aprender é preciso estudar.
É imperativo que tanto estudantes e professores, sejam capazes de
construir ambientes de aprendizagem. Em síntese um ambiente que
proporciona as condições mais favoráveis para o estudo, o que não se
resume obviamente na concepção de modelos puramente instrucionais, onde a
informação é simplesmente disponibilizada com certo didatismo, em via
única, indo do instrutor ao aprendiz. Supondo-se na maioria das vezes
que este último seja tábula rasa. Um mero recipiente a ser preenchido.
Do ponto de vista filosófico, um ambiente de aprendizagem deve ser
antes de tudo um ambiente de estudo dentro de um mundo de instrução
capaz de envolver a atividade hermenêutica de construir interpretações.
Em outras palavras a informação só pode ser útil, se dela, se obtém a capacidade de elaborar uma nova concepção da própria realidade. A descoberta deste saber que se tornará alavanca da evolução individual e possibilitará a sua nova leitura de mundo.
Em outras palavras a informação só pode ser útil, se dela, se obtém a capacidade de elaborar uma nova concepção da própria realidade. A descoberta deste saber que se tornará alavanca da evolução individual e possibilitará a sua nova leitura de mundo.
Consistente com estes argumentos filosóficos, por exemplo, o estudo
de determinada lei natural, não deve limitar-se à simples memorização do
enunciado da lei, ou ao estabelecimento de algoritmos de aplicações de
sua formalização matemática.
Estudar, em seu pressuposto hermenêutico, caracteriza um conjunto de
operações mentais, que possibilitem a formulação de hipóteses, a
modelagem de ensaios, o exame dessas hipóteses e a construção de
interpretações e previsões de resultados, como reflexo desse modelo,
dentro de um determinado contexto prático.
Do aprendizado desse novo conteúdo, o aprendiz terá evoluído o seu discurso, sua forma de pensar e evidentemente sua conduta no mundo do fazer. Nesse ponto o processo ensino-aprendizagem torna-se, a meu ver, algo mais abrangente que denominamos “educação”.
Do aprendizado desse novo conteúdo, o aprendiz terá evoluído o seu discurso, sua forma de pensar e evidentemente sua conduta no mundo do fazer. Nesse ponto o processo ensino-aprendizagem torna-se, a meu ver, algo mais abrangente que denominamos “educação”.
Aliás, é justamente esse elemento de contextualização, que apresenta
um papel preponderante, como elemento que desperta a atenção, na
construção de um aprendizado pleno de significado que prepara o
indivíduo para o mundo e o torna efetivo. O torna cidadão.
O modelo deve ser projetado para ajudar o aprendiz a construir um
conhecimento útil em lugar de informação inerte, que simplesmente
ilustra.
Deve ser dada ênfase num determinado enfoque que gere interesse e
permita que o aprendiz se identifique com o problema e passe a prestar
atenção à sua própria percepção e na forma que se dá a construção dessa
compreensão e da solução do problema.
Assim o aprendiz, hierarquizado a estudante, pode ser apresentado à
informação pertinente a essas percepções, de forma que seu aprendizado
seja efetivo e possibilite, a posteriori, aplicar analogamente esse know
how desenvolvido na construção de soluções para novos problemas,
tornando-se autônomo.
A meta principal de um ambiente de aprendizado é possibilitar ao
estudante a percepção das características críticas da situação problema,
experimentar as mudanças em sua percepção e entender como se pode
analisar a situação por pontos de vistas inovadores.
Porém, a questão determinadora, que tange a meta principal, até no
pressuposto de torná-la viável ou não, seria a que se resume no “como”
se deve projetar um ambiente de aprendizagem? Ou, em outras palavras,
quais são os atributos essenciais que caracterizam um ambiente de
estudo?
Do ponto de vista do educador, se inicia simplesmente pelo ato de
encantar. De mostrar que o universo a ser aprendido é a cada dia um
brinquedo novo.
Do ponto de vista do educando, se inicia com a sua coragem. Coragem
de aceitar desafios. De colocar o seu esforço como prioridade.
Descobrindo que existem brinquedos muito trabalhosos e que nem por isso
deixam de ser divertidos.
Quando o educando aceita a sua parte na responsabilidade de aprender e
tornar-se parte da solução ele naturalmente se transforma em educador.
Primeiro de si mesmo. E a posteriori dos demais.
O êxito do aprendiz é quando naturalmente ele se transforma também em professor.
O êxito do professor é quando ele descobre humildemente que nunca
deixará de ser aprendiz – pois existem neste mundo muitas coisas a se
conhecer – e neste ponto ele transcende sua condição de instrutor e se
transforma em educador. Estudando sempre e inspirando seus alunos com
suas ações a estudarem com alegria e aprenderem com prazer:
Pois, nas palavras do poeta inglês William Yeats:
“Educar não é encher um cântaro,
mas sim, acender uma chama”.
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*Mustafa Ali Kanso é escritor, professor, engenheiro químico, empresário da mídia educacional e divulgador científico em programas culturais da TV.
Fonte: http://hypescience.com/23/07/2012
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