segunda-feira, 23 de julho de 2012

Como gastamos para comprar a felicidade

Você prefere gastar US$ 1.800 em um vestido Prada ou em um fim de semana na Itália? Se você escolheu o vestido, é provável que seja menos feliz e menos ousada do que uma pessoa que gastaria esse dinheiro em comida, viagens e outras experiências.
Um estudo recente da Universidade Estadual de San Francisco examinou o tipo de personalidade e os hábitos de compras de quase 100 mil pessoas e calculou que cerca de seis em cada dez gastadores "experienciais" tinham satisfação geral na vida, contra cerca de quatro em cada dez gastadores "materiais", relatou o "Times". Os gastadores experienciais também tendiam a se dar melhor com os outros e sentir menos ansiedade em situações sociais.
"As tendências típicas de gastos -comprar mais e para nós mesmos- são ineficazes para transformar dinheiro em felicidade", escreveram no "Times" Elizabeth Dunn e Michael Norton, autores do livro "Happy Money: The Science of Spending" ["Dinheiro Feliz: a Ciência do Gastar"]. "Se você insiste em gastar dinheiro consigo mesmo, deveria passar de comprar coisas (TVs e carros) para experiências (viagens e saídas especiais à noite)."
A "experiência" pode ser o que mais recompensa, mas ainda vamos querer nossas "coisas". Apenas esperamos mais delas.
Sempre houve artigos de luxo nas casas de leilões Christie's e Sotheby's. Mas aparentemente as obras-primas não são mais suficientes para atrair os compradores, por isso comida e bebida tornaram-se centrais para a experiência. Antes de um leilão de obras-primas italianas de Fra Bartolommeo e Simone Martini, a Sotheby's serviu "guanciale in vinaigrette" importado. E para uma prévia da venda de "O Grito", de Edvard Munch, houve um "smorgasbord" -banquete de especialidades norueguesa.
"Não se pode mais ter uma tigela com castanhas na mesa -tem de ser comida de primeira classe", disse Lydia Fenet, vice-presidente sênior da Christie's. "As pessoas querem o que é novo e diferente."
A Christie's gastou mais de US$ 1 milhão em comida e vinho em Nova York no ano passado, relatou o "Times". Ela importou chefs como Thomas Keller e Mario Batali para cozinhar em ocasiões especiais. A Sotheby's, que disse que teve gastos semelhantes, convidou Daniel Boulud e Nobu Matsuhisa, segundo o "Times".
"Comida e bebida transformam o leilão em um evento, e não apenas uma venda", disse ao "Times" Arlan Ettinger, da casa de leilões Guernsey's em Nova York.
Hoje, esperamos que tudo seja um "evento" quando gastamos dinheiro, mesmo que seja apenas em uma cadeira. Não é mais suficiente que nossos móveis sejam funcionais e bonitos; também devem ser emocionalmente satisfatórios. A cadeira Hosu desenhada por Patricia Urquiola para a Coalesse é amarelo-vivo e fica perto do chão. Ela evoluiu de uma pesquisa que descobriu que quando as pessoas entram em comunhão com seus dispositivos digitais portáteis gostam de se reclinar perto do chão, relatou o "Times". Urquiola descreveu a Hosu, que custa a partir de US$ 2 mil, como "um pequeno ninho". A ergonomia não é uma experiência, mas uma "zona de conforto" é.
Às vezes, são as menores coisas, objetos sem valor, que podem ter o maior impacto. O escritor e analista de marcas Joshua Glenn colecionou objetos de mercados de pulgas e lojas de pechinchas e pediu que escritores como Luc Sante e Curtis Sittenfeld criassem contos ao redor deles. Suas narrativas agregaram valor a objetos insignificantes, e alguns foram vendidos por até 2.700% de seu valor no eBay.
Molly Peck, uma artista de Nova York, gastou mais de US$ 100 em um bonequinho, um botão, um grampo de cabelo e uma bandeja gaúcha, todas com histórias adicionadas. Ela acabou dando essas coisas de presente. "Mas eu tenho a memória da experiência", disse ela. "É isso que importa. Em vez de comprar coisas, você compra uma série de eventos intangíveis." ANITA PATIL
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Fonte: Folha on line, 23/07/2012 - http://www1.folha.uol.com.br/fsp/newyorktimes/55968-como-gastamos-para-comprar-a-felicidade.shtml
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