Novos livros de Allan Meltzer e Luigi Zingales trazem análises positivas do sistema que ficou sob ataque durante os protestos de 2011
A crise financeira levou algumas pessoas a questionar a
viabilidade do sistema econômico americano. O apelo do socialismo perdeu
a força na Rússia e na China, e de certo modo em outros países que eram
seus porta-estandartes, como Índia e Cuba. Mas o capitalismo ao estilo
americano não tem tido descanso também. Mercados financeiros em colapso,
resgates de bancos e altos níveis de desemprego incrementaram a
sensação de mal estar sobre um sistema que é baseado na propriedade
privada de recursos.
Why Capitalism? (“Por que o capitalismo?”), de Allan
Meltzer, professor de economia da Universidade Carnegie Mellon em
Pittsburgh, é uma resposta estendida a alguma das perguntas que ele
recebeu recentemente. A mais desafiadora veio de uma mulher da Alemanha
que se perguntou, após ler o New York Times, se o sistema que derrotou o comunismo estava colapsando apenas duas décadas após a queda do Muro de Berlim.
A defesa central do capitalismo, argumental Metlzer, é que este é o
único sistema que leva à liberdade e ao crescimento econômico. Tal
sistema é menos eficaz na promoção da virtude ou da estabilidade; a
falha é uma parte inerente. Com efeito, a observação do autor de que “o
capitalismo sem falhas é como a religião sem pecados: não funciona
realmente”, já circulou por muitos lugares. Contudo, os pecados
atribuídos ao capitalismo – corrupção, fraudes e ganância, para citar
apenas três – não só são generalizados em sistemas em que o estado
controla a produção, mas muito mais nocivos e menos inclinados a serem
retificados.
O principal problema, ele argumenta, é que mesmo sistemas
nominalmente capitalistas têm, para o bem e para o mal, elementos de
controle estatal. Esses em geral começam com a defesa e a polícia, e
prosseguem para sistemas nacionais de transportes, o que gera, no caso
americano, uma rede de agências e secretarias em constante expansão. Boa
parte da burocracia é implementada com o pretexto de aumentar a
“justiça”. Mas, como Seltzer assinala, justiça em geral significa
fornecer benefícios presentes usando dívidas que terão que ser pagas por
contribuintes no futuro (o que não é muito justo) ou através de
regulamentos e subsídios criados por burocratas do governo que depois
passam a explorá-los em empregos no setor privado (o que também não é
justo).
A Capitalism for the People (Um capitalismo para o povo), de
Luigi Zingales, professor da Booth School of Business da Universidade
de Chicago, argumenta que boa parte do pessimismo atual em relação ao
capitalismo é resultado direto da vasta expansão do estado através de
subsídios complexos e regulamentos anticompetitivos que abrem a porta
para o tipo de camaradagem citada igualmente por Meltzer.
Quando o governo favorece o setor privado, Zingales argumenta, muitas
vezes o faz tomando atitudes que são ‘pró-negócios’ e não
‘pró-mercado’, o que significa fornecer condições favoráveis a
instituições particulares em vez das instituições como um todo. Isso
distorce o sistema, resultando precisamente no problema de empresas
selecionadas obtendo lucros e imponto custos à sociedade que, de acordo
com Meltzer, deviam ser o centro do que a regulação deveria ser
projetada para evitar.
----------------------
http://opiniaoenoticia.com.br/cultura/livros/capitalismo-para-os-descrentes/
Nenhum comentário:
Postar um comentário