Enzo Bianchi*
Estar só, saber estar só é uma conquista que exige esforço,
exercício, audácia.
Sem a solidão e sem o silêncio,
como poderíamos
conhecer a nós mesmos,
escavar em nós mesmos,
enxertar conscientemente
em nós mesmos
germes de comunhão?
Solidão: uma palavra que habitualmente soa como negativa, que causa medo, porque remete à imagem de um pântano desolado, a uma situação fechada, de isolamento, até mesmo de reclusão na prisão. Quando se afirma que alguém está sozinho, diz-se isso com um sentimento de pena, de compaixão. Gabriel Marcel chegou a confessar: "Não há a não ser um sofrimento: o estar só", bem sabendo que muitos homens e muitas mulheres estão condenados a sofrer essa situação. E Victor Hugo escreveu laconicamente: "O inferno está todo nesta palavra: solidão".
Mais do que solidão, devemos, porém, falar de solidões, no plural, porque muitas são as formas nas quais a solidão pode aparecer, e de fato aparece, nas nossas vidas. Acima de tudo, há uma solidão a ser lida como uma espécie de destino, isto é, a solidão em que nos precipitamos em um certo ponto da vida, quando a morte nos arranca aqueles que nos permitiam não ficar sozinhos.
Essa é, por exemplo, a solidão do órfão que, perdendo a mãe ou o pai, não tem mais ao seu lado aquela presença que era a carne, a vida da qual viera, não tem mais aquela referência ao "tu" que o tinha acompanhado na sua vinda ao mundo. Tempos atrás, a solidão do órfão era um tema da literatura, principalmente para a dos jovens, um tema atestado de modo quase obsessivo; hoje, ao invés, ele foi removido, como se não se registrasse mais a morte de algum pai, que determina para o filho, criança ou adolescente, uma situação de triste solidão.
Solidão ligada a uma perda também é a de quem está privado do seu amante/amado. Eugenio Montale escrevia na morte da esposa: "Eu desci, dando-te o braço, ao menos um milhão de escadas / e agora que tu não estás, é o vazio a cada degrau". Sim, nessa solidão-destino, só se pode gemer, chorar, lamentar: o pranto é a única coisa necessária e parece também ser o único remédio possível.
Uma outra solidão negativa é a do isolamento. Às vezes, muitas vezes a partir de inícios silenciosos e escondidos, acontece de estarmos sozinhos, isolados, porque todos estão longe, porque não estamos mais perto de ninguém. A manifestação extrema dessa solidão é a prisão, onde somos jogados para longe da vida, dos afetos, do escorrer cotidiano da existência.
Hoje, porém, de fato, muitos aportam nesse isolamento mesmo sem chegar a essa situação limite: chegam a ela principalmente por causa de "um mundo em fuga" (Anthony Giddens), de uma sociedade marcada pela velocização, em que o indivíduo não tem mais tempo para dar aos outros a sua própria presença.
Parece impossível, mas essa distância nasce dos próprios filhos, dos próprios entes queridos, e a estranheza se afirma porque os laços se mostram frágeis e são facilmente afrouxados ou mesmo truncados. É o estado em que se encontram muitos idosos, pensionistas, inválidos e doentes, abandonados em parte ou totalmente por aqueles que, empenhados em viver, não têm mais o cuidado por aqueles que não conseguem "permanecer na vida", "correr" como eles. Esses idosos estão – se poderia dizer – sob prisão domiciliar, porque estão impedidos pela sua condição física de se moverem como antigamente.
Depois, há a solidão de quem vive o sentimento da estranheza: esta é sobretudo um mal-estar psicológico e intelectual. Tal solidão é mais rara e é uma enfermidade que aflige pessoas na posse de uma certa educação, de uma certa cultura. Não se trata de apatia ou de falta de interesses, mas sim de uma rejeição do que está ao redor, do ar que se respira. É um sentimento estranho aos outros. Este, em resumo, é a solidão de quem pensa que os outros são o inferno... E depois há as solidões fecundas.
Estar só, saber estar só é uma conquista que exige esforço, exercício, audácia. Sem a solidão e sem o silêncio, como poderíamos conhecer a nós mesmos, escavar em nós mesmos, enxertar conscientemente em nós mesmos germes de comunhão?
Mas é preciso a coragem de se retirar, de fazer anacorese, de se afastar do cotidiano, do próprio empenho, dos próprios vínculos: e isso não para renegá-los, mas sim para se distanciar do que saiu de nós, do que foi gerado por nós, mas não está dentro de nós.
É um sair do turbilhão cotidiano para se afirmar: "Senta-te e vai'', dizia um padre do deserto. É nessa fase da solidão assumida que a música, a leitura, a vista de uma imagem, a contemplação de uma planta ou de uma pedra são eloquentes, nos fazem perguntas, acenam a respostas, nos fazem tremer de alegria, nos fazem chorar... "Beata solitudo, sola beatitudo!", gritava Bernardo de Claraval.
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* A reflexão é do monge e teólogo italiano Enzo Bianchi, prior e fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado no jornal Avvenire, dos bispos italianos, 29-07-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: IHU on line, 31/07/2012
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