Ficção e realidade se confundem na estética da barbárie
Assistir à pré-estréia de Batman depois dos do
acontecido no Colorado é uma experiência de certo medo, onde qualquer
movimento na platéia suscita apreensão; como se pudéssemos ser atingidos
a todo momento pela violência implacável. O filme, uma obra
totalitária, amparado na própria violência, se afina perfeitamente aos
acontecimentos da vida real: Ficção e realidade se confundem através do
terrorismo, com sangue, explosões, corpos dilacerados e gritos de
terror.
A sensação é a de que voltamos outra vez a assistir o mesmo filme,
totalmente decupado em planos minuciosos, que duram átimos de segundo,
impedindo o espectador de pensar. O cérebro se contrai, um músculo tenso
e entorpecido, vilipendiado pelas imagens que ferem como punhais – cada
corte um pequeno eletrochoque, preparando aquele que assiste para viver
a partir de um controle baseado na docilidade dos corpos. Ver para não
agir? Ou seria o contrário?
As regras e códigos de conduta da dita civilização só precisam de um
estímulo, o menor que seja, para serem perfuradas pela barbárie. Aquilo
que é sublimado, permanece latente, até que explode em um rompante de
violência. Benjamin estava certo quando apregoava a existência de uma
estética da política e de uma politização da estética. O que vemos neste
filme, que não acaba nunca, é a mistura da perspectiva dos senhores, os
poderosos manipuladores das massas, vendedores de armas, traficantes de
almas, com a burrice e idiotice da plebe, que necessita cada vez mais
do mesmo: O famoso panis et circensis!
Quando mais uma escola for atacada, mais sangue dos inocentes for
derramado, poderemos construir no lugar uma espécie de Shopping Center,
um monumento moderno, povoado pelos fantasmas e gritos das criancinhas.
Um lugar para ver e ser visto, controlado e vigiado; câmeras e – por que
não? - um policial armado. Para onde ia mesmo aquele trem de Realengo?
Ao perceber que vida e “arte” se confundem no escurinho do cinema,
penso que vivemos num umbral, uma espécie de semi-vida, onde a qualquer
momento pode surgir o Cavaleiro das Trevas, aquele que virá nos levar. E
vivemos na expectativa disto!
É como se a anarquia, um imaginário libertador que pregava a utopia
de um homem livre da coerção do Estado, tivesse sido esmagada e enlatada
pelas políticas e estéticas do próprio Estado. Esse ESTADO globalizado,
empenhado e azeitado pela mediocrização das massas. Aqui o veneno e o
antídoto se confundem, parecendo ecoar, como o Livro de Monelle, de M. Schwob, publicado em 1894:
Destrua, destrua, destrua, suplica Monelle.
Destrua em ti mesmo, destrua ao teu redor (…) Destrua todo o bem e todo o mal. Os escombros são semelhantes.
Destrua as antigas habitações dos homens e as antigas habitações das almas; as coisas mortas são os espelhos que deformam. (…)
E para imaginar uma nova arte, é preciso demolir a arte antiga. E desse modo a nova arte parece uma espécie de iconoclastia.
Pois toda construção é feita de cacos, e nada é novo neste mundo, a não ser as formas.
Mas é preciso destruir as formas.
Veja o trailler: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=aXI0fyTbzqY
-------------
Reportagem por
Nenhum comentário:
Postar um comentário