sábado, 14 de julho de 2012

Caná e Betânia: quando pouco é muito e o inútil se torna essencial



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Marten De Vos
Na casa de Caná, na abundância e na bondade do vinho (Jo 2,1-11), aparece o rosto belo de Deus. Noutra casa, em Betânia (Jo 12,1-8), quando Jesus acolhe o humaníssimo gesto de afeto de Maria que o cobre de perfume, emerge um Deus que ama o perfume, o inútil e amado perfume que exprime amor e gera alegria. Um Deus que já ordenara a Moisés erigir um altar para os perfumes (Ex 30,1-8) e ungir com bálsamo a tenda da aliança e todos os adereços sagrados (Ex 30,22-30).
A mulher em Betânia, com o seu vaso de nardo, que vale tanto como o estipêndio anual de um camponês, faz algo que está para além da lei: ama, inventa, cria, como faz Deus, e consome num gesto de amor um património inteiro de cálculos e de tristezas.
O milagre do vinho em Cana, na sua rica simbologia, revela um Deus atento ao gratuito, que alinha com o vinho, com algo que não é vital como o pão, não necessário exceto à festa e à qualidade da vida.
Este Deus não é o vértice explicativo do cosmo, a resposta a todas as nossas perguntas, mas é a profundidade que revela à sua volta outras profundidades, incremento da vida, crescimento de humano, estímulo para a criatividade, amor para a dádiva gratuita que engendra alegria.
Sem dúvida, Deus é igualmente resposta, legislador, vértice da pirâmide da existência. Tudo isto é importante, mas esquecemos que Deus é também gratuito - como o perfume de Betânia, como o vinho de Cana -, sob o signo da festa, do banquete, da amizade, do inútil e amado perfume, e que as coisas gratuitas - como o amor, a amizade, a beleza - são também as mais necessárias para bem viver.
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 Rubens
Diz Judas: «Podia dar-se todo este dinheiro aos pobres», e é verdade, podia dar-se. Mas o Evangelho afirma: Olha para o perfume, não para o custo; cobiça o gesto, não o dinheiro; fixa-te no coração, não no preço. Toma por modelo a generosidade, a liberdade, a capacidade de dom da mulher de Betânia.
Diante de Deus não vigora, pois, a lei da quantidade: as duas moedas da viúva contam mais do que as lautas ofertas dos ricos (Mc 12,41-44); o muito e o pouco não são os critérios de Deus, as suas balanças não são quantitativas, não existe a tirania da quantidade no dom, não há capitalismo no campo do amor. Existe unicamente a exigência da verdade: que o teu coração esteja todo em tudo o que fazes, porque cada ação realizada com todo o coração aproxima do absoluto de Deus; não é o dinheiro que determina o valor das coisas, mas a parcela de humanidade, a porção de glória de humano que pesa sobre as próprias coisas.
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Catedral de Chartres, França
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Texto de: Ermes Ronchi
In Tu és Beleza, ed. Paulinas
13.07.12
Fonte:  http://www.snpcultura.org/cana_e_betania_quando_pouco_e_muito.html

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